ATLÉTICO LÍDER E RONALDINHO PRODUTIVO: MÉRITO TÁTICO DE CUCA

22/07/2012 23:51

 

Ronaldinho surgiu no Grêmio como meia-atacante, função que também desempenhou no PSG. Na Seleção Brasileira com Luxemburgo, e posteriormente com Felipão, jogou como um moderno meia-atacante que criava por todos os lados, incluindo dribles geniais e passes cirúrgicos. Foi nessa posição que foi campeão do mundo em 2002, maior título que um jogador de futebol pode conquistar.

Em julho de 2003, Ronaldinho se transferiu para o Barcelona, onde viveu o auge de sua carreira, conquistando o posto de melhor jogador do mundo no ano de 2005. Chegou ao clube junto com Rijkaard, um discípulo da escola holandesa e de seu tradicional 4-3-3. O esquadrão montado pelo holandês ganhou vários títulos, entre eles a Champions League da temporada 2005/2006. Esse era o desenho tático de Frank Rijkaard, um tradicional e ofensivo 4-3-3:

 

 

Rijkaard achou uma solução interessante para aproveitar o craque sem abdicar-se de seu propósito tático. Assim, Ronaldinho foi jogar aberto pela esquerda, de onde partia driblando e também armando, sem qualquer apego defensivo. Nesta função, o treinador holandês conseguia extrair toda a qualidade de Ronaldo, que lançava, driblava, pensava o jogo e desconcertava as defesas adversárias. A dupla com Eto’o foi dinâmica e inesquecível.

Porém, após a pífia participação na Copa de 2006, aonde chegou com status de melhor jogador do planeta, Ronaldinho lentamente começou a declinar do topo do futebol mundial, como uma estrela cadente, sempre brilhando, mas não deixando de cair. No Barça, antes de se transferir, e posteriormente no Milan, continuou condicionado a jogar armando pela ponta esquerda, parecendo ser essa a fórmula tática para a apresentação de seu melhor futebol. Também não deu certo, e Ronaldinho voltou ao Brasil.

Na realidade menos técnica do futebol brasileiro, o jogador voltou a ter raros momentos de brilho, porém, sempre procurando seu posicionamento preferido e óbvio pela repetição, que era a criação de jogadas pelo flanco esquerdo. Luxemburgo tentou encaixá-lo de centroavante, função que não coadunou com as características do atleta.

Luxa também tentou usá-lo como falso nove. Novamente não funcionou. A última tentativa foi como um enganche que jogava à frente de três volantes, espécie de meia-atacante. Entretanto, o vício pela ponta esquerda “puxava” Ronaldinho, o que o isolava dos companheiros de ataque. Mesmo assim, decadente e com raro brilho, e jogando em sua posição padrão, conseguiu retornar com status de líder para a Seleção Brasileira.

No time de Mano, acabou engessando o 4-2-3-1 com sua lentidão e falta de mobilidade. Como Neymar é o meia aberto pela esquerda, Ronaldinho foi jogar na meia central, onde Mano esperava que coordenasse o jogo do Brasil. Não foi o que aconteceu. Após partidas ruins, o jogador foi novamente preterido da Seleção, ainda mais após sua saída turbulenta do Flamengo. Parecia que o jogador estava fadado a fracassar pela ponta esquerda, afundado em sua decadência e no vício de jogar somente naquele espaço de campo.

 

Estava claro que o dentuço não tinha mais a capacidade física necessária para exercer a função. Não tem mais como Ronaldo render de ponta armador ou de atacante, funções que exigem explosão muscular além de técnica. Como insistia no posicionamento, Ronaldinho limitou-se a passes de lado e passou a perder muitas bolas, não brilhando em campo e se tornando inoperante taticamente.

Quando Luxemburgo caiu, Joel Santana assumiu e em nada acrescentou no posicionamento do jogador. Perdido taticamente, o ultrapassado Joel repetiu os mesmo equívocos de Luxa, insistindo no enganche a frente de três volantes ou no isolamento inoperante pela ponta esquerda. Além do problema de posicionamento, no Flamengo Ronaldinho enfrentou atrasos reiterados de salário, uma grave crise administrativa e a falta de companheiros qualificados no setor ofensivo do time, muitas vezes recheado de volantes lentos e sem nenhuma qualidade técnica.

A queda brusca de rendimento no início de 2012 e a saída pela porta dos fundos do Flamengo, pareciam decretar a queda final de Ronaldo, que passou a ser questionado quanto a possibilidade de conseguir voltar a jogar de uma forma, pelo menos, competitiva. Mas isso aconteceu até o Atlético abrir as suas portas para o craque decadente, caindo no colo de Cuca a chance de tentar recuperar o futebol do craque.

A principal virtude de Cuca, em minha opinião, foi resgatar no jogador o gosto por pensar o jogo e trabalhar por todo o campo, tirando a obviedade do seu posicionamento. Em seu blog, Renato Maurício Prado escreveu texto intitulado de “Ronaldinho Mineiro”, o qual transcrevo abaixo:

 

- “Muita gente me pergunta o que estou achando de Ronaldinho Gaúcho no Atlético Mineiro. Pelo que vi até agora, está jogando mais ou menos o mesmo que fazia no Flamengo. Um passe bom aqui, outro acolá, um golzinho de pênalti e só. Há, entretanto, duas diferenças importantes. No Galo, com Cuca, o Dentuço voltou a ser armador – coisa que nem Vanderlei nem Joel souberam fazer no Fla. Ambos o empurraram para o ataque, pela esquerda. Além disso, o time mineiro me parece muito mais bem armado do que estava o carioca, quando ele jogava por aqui. E ainda tem um garoto incrivelmente talentoso: Bernard”.

 

Concordo plenamente com o que Renato escreveu, principalmente sobre a escalação de Ronaldinho como armador, voltando a jogar como um legítimo meia-atacante. Esse posicionamento do atleta foi preponderante para o crescimento de sua produção. No último jogo contra o Sport, partida acirrada disputada em Pernambuco, Ronaldinho fez mais que meros passes e gols de pênalti. Entrou pelo centro de ataque no lance do primeiro gol, criou pela direita e entrou finalizando pela esquerda no lance do terceiro gol do Galo, na goleada imponente de 4 a 1.

Esse é o painel tático da equipe de Cuca, time com 84,8% de aproveitamento no Brasileirão, com nove vitórias em onze partidas:

 

 

Percebendo o óbvio, de acordo com as condições atléticas de Ronaldo, Cuca resolveu adequar o seu 4-2-3-1 ao craque, sem mobilidade para exercer a função de atacante pela ponta esquerda. Assim como o Fluminense de Abel e o Corinthians de Tite, o Galo tem jogado numa moderna versão estratégica do 4-2-3-1, uma verdadeira evolução tática do sistema, que na verdade é um retrocesso às suas origens, muito provavelmente o 4-4-2 em duas linhas de quatro.

Essa aplicação moderna do 4-2-3-1, como citado, marca em duas linhas de quatro e ataca com quatro ou cinco jogadores, deixando o meia central como uma espécie de segundo atacante de um 4-4-2 em duas linhas, assim como Deco tem jogado no tricolor de Abelão. Jogando no meiuca central, Ronaldinho encontrou um espaço maior para desfilar seu talento, algo inquestionável e admirável quando apresentado pelo jogador.

Com o rendimento melhor, Ronaldinho vem conseguindo demonstrar motivação e comprometimento, outro mérito de Cuca, que vem conseguindo imbuir o craque num objetivo de caráter mais coletivo do que individual. Centralizado, o jogador consegue aproveitar seus belos passes e lançamentos precisos. Com velocidade ao seu redor, aflorou novamente a criatividade e um pouco daquela molecagem que verificávamos no futebol do jogador. Com a opção de dominar e passar, pela movimentação da equipe, a busca pelo drible não ficou óbvia, aumentando o campo de atuação de Ronaldo diante da marcação adversária.

Danilinho e Bernard voltando pelos lados e formando uma segunda linha de quatro, libera Ronaldinho e Jô para criação de jogadas, seja trabalhando a bola ou partindo em contra-ataque. Na Seleção, o jogador não foi bem de meia central do 4-2-3-1 porque faltava padrão tático e movimentação, sendo que a fase também não estava boa para Ronaldinho.

E Cuca vem sendo premiado pela ousadia e inteligência tática com a liderança plena do Brasileirão. Montou um grupo coeso e determinado coletivamente, o que tem aflorado as qualidades individuais dos jogadores do elenco. O garoto Bernard, como citado por Renato Maurício Prado, é uma verdadeira joia, tendo função tática importantíssima na esquemática de Cuca. Jô também encaixou perfeitamente no esquema, pela inteligência e excelente colocação dentro da área. O Galo vem forte e imponente na briga pelo título. Os resultados e a liderança advêm dos méritos táticos de Cuca. Abraço!

 

 

 

 

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

Tópico: ATLÉTICO LÍDER E RONALDINHO PRODUTIVO: MÉRITO TÁTICO DE CUCA

nota 10

Juliano | 24/07/2012

vitao, vc e o cara!!! q post historico, enriquecedor!!! parabens!!!

Re:nota 10

Victor Lamha de Oliveira | 26/07/2012

Olá Juliano, tudo bom? Muito obrigado pelos elogios! Que bom que gostou! Toda viagem tática nos enriquece! Aprendo muito a cada pesquisa desse tipo. Fico muito feliz em despertar o interesse pelos aspectos da evoluçao tática, processo lento e encantador que teve início no início do século passado. Abraços!

Post.

João Paulo Paes Silva. | 24/07/2012

Parabéns meu caro, belo post esse teu, o cuca realmente esta fazendo um trabalho belíssimo.

Abraço!!!

Re:Post.

Victor Lamha de Oliveira | 26/07/2012

Grande China! Tudo bom João? Obrigado pelo elogio! Cuca está muito bem e o elenco foi muito bem montado. O resultado é merecido! Abraço!

Ronaldinho como meia armador!

Maurício | 23/07/2012

Excelente post Victor, muito bom mesmo. Post em que está falando de um craque Ronaldinho jogador. Sempre tive essa dúvida m que função jogava Ronaldinho, na época de Barcelona ele jogava bem aberto pela esquerda como você citou no post, mas na época da seleção de 2006 ele armava o jogo ao lado de Kaka! Mas o auge da carreira do Dentuço foi jogando de meia /ponta esquerda, partindo em direção ao gol, driblando e fazendo passes precisos ao Camarones Eto'o, seu parceiro de ataque!

Mas hoje em dia Ronaldinho acho que não tem a mesma mobilidade, velocidade, para exercer a função de ponta esquerda ou meia esquerda, com o passar do tempo ele foi perdendo um pouca da mobilidade, e foi ficando parece meio que pesado, mas sempre com o mesma visão de jogo. E no Atlético Mineiro, ele ta fazendo a função de um número 10 de antigamente, com dois meias abertos do lado dele, dois meias muito veloz, e vem dando certo com Ronaldinho de armador, to gostando de vê-lo jogar, apesar de ter ficando um pouco de nojo dele,após a não vinda para o Grêmio, mas reconheço que é e foi um craque, melhor do Mundo!

Abraço !

Re:Ronaldinho como meia armador!

Victor Lamha de Oliveira | 26/07/2012

Grande Maurício! Obrigado pelos elogios! Você colocou muito bem: Ronaldinho perdeu a mobilidade mas não sua visão de jogo, que tem sido privilegiada pelo esquema tático de Cuca. Fica bravo com ele não...rs! São coisas do futebol moderno! Abraço!

Re:Re:Ronaldinho como meia armador!

Maurício | 26/07/2012

hueheuehuhue
Mas não tem como não ficar neh!!

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