DESTRANCAR MESSI PODE SER A CHAVE PARA O BARCELONA SE REERGUER COMO GRANDE FAVORITO

15/03/2013 13:43

 

Messi vinha jogando mal. Com o Barcelona insistindo num apático e previsível 4-3-3, as marcações ficaram mais severas, o que diminuiu o rendimento do argentino e, consequentemente, da equipe, visto que o camisa 10 é seu grande craque. No jogo de ida das oitavas da Champions, no San Siro, Lionel fez uma de suas piores partidas pelo Barça, encaixotado na marcação do Milan e totalmente improdutivo. Teria Messi caído de produção pela previsibilidade do Barça? Ou teria o time catalão caído de produção pelas más atuações de seu craque?

A resposta veio no jogo de volta contra o Milan. A montagem de um 3-4-3 que destrancou Messi, foi a chave da goleada catalã, voltando o argentino para as capas de quase todos os jornais esportivos da Europa. A questão esbarrava muito mais na obviedade tática da equipe do que no rendimento técnico do atleta, que joga em alto nível e de forma constante desde que assumiu a posição de titular.

Paulo Calçade publicou texto no site da ESPN, no dia 01/03/2013, que tratou de forma interessante sobre o atual posicionamento de Messi. Para embasar sua percepção acerca do comportamento tático do Barcelona, anexou ao texto dois mapas que desenham a movimentação de Messi nos tempos de Guardiola e no time atual. Abaixo trecho retirado do texto e a reprodução dos mapas demonstrativos:

 

- Talvez não seja tão nítido, mas o comportamento tático da equipe catalã está diferente. Hoje pressiona menos a saída de bola do adversário, e perdeu a amplitude, deixou de ter seus atacantes bem abertos pelos lados do campo. Um exemplo claro da mudança é o comportamento de Messi. Com Pep, o argentino atuava numa faixa de campo maior, utilizava mais os deslocamentos laterais, da direita para a esquerda. Com Tito/Roura, o atacante está mais fixo e centralizado. Veja nos mapas abaixo. Eles mostram a temporada 2011-12 e a atual. O setor vermelho é o mais frequentado pelo jogador. Os números individuais de Messi continuam excepcionais, mas não se pode afirmar o mesmo do jogo coletivo.

 

 

MESSI NO BARCELONA DE PEP GUARDIOLA, TEMPORADA 2010/2011

 

MESSI NO BARCELONA DE TITO VILANOVA, TEMPORADA 2012/2013

 

 

Na opinião de Paulo Vinícius Coelho, em texto também publicado no site da ESPN, “o lugar onde Messi atuou ajudou o gênio a colocar o Milan diante de sua realidade atual”.  Como destaquei aqui no Painel, a escalação de Villa como centroavante e a liberação de Daniel Alves pela ponta direita, fizeram parte de um plano tático para liberar Lionel Messi, única forma de reverter à vantagem milanesa e transpor o ferrolho italiano. Abaixo, citação do referido texto de PVC:

 

- Os fatores do massacre são vários, mas é possível dizer Messi em primeiro lugar, Messi em segundo lugar, a forma de o Barcelona jogar em terceiro lugar e... a posição de Messi em quarto lugar. Jordi Roura -- ou Tito Villanova... ou Messi mesmo -- escalaram Villa como centroavante e Messi num lugar diferente. Desta vez não foi um falso 9, mas um falso 7. Porque jogou mais à direita, camisa 10 às costas, função de ponta-de-lança entre a ponta-direita e o centro do ataque. Ali onde Constant não sabia se marcava ou não. E onde os volantes não podiam chegar, porque havia Xavi e Iniesta. Então, o lateral Constant se aproximava e liberava o corredor direito para Daniel Alves avançar, com Alba mais preso do lado oposto do campo. Claro que o posicionamento foi menos importante do que o talento. Ou teria sido Daniel Alves, e não Messi, a aproveitar o corredor deixado na lateral esquerda. Mas foi um fator importante, isso foi. Se é impossível marcar Messi, imagine o desespero quando não se sabe quem deve marcar.

 

André Rocha publicou no Olho Tático, em texto intitulado de “A inversão: qual o antídoto do Barcelona para a 'fórmula' dos adversários que não o dominam, mas vencem?”, que abordou a análise tática do jogo de ida no San Siro, baseado em sua percepção tática privilegiada, que ficava nítida uma inversão de valores no futebol europeu. De acordo com André, agora cabe ao Barcelona estudar e vencer os oponentes que se abdicam de brigar pelo domínio da partida e que estavam vencendo o time catalão.

 

- Qual a solução, então? A questão agora vira do avesso: como Tito Vilanova/Jordi Roura e seus comandados podem fugir da estratégia dos rivais que estudam minuciosamente todos os movimentos individuais e coletivos da equipe e os bloqueiam? Resposta óbvia: surpreendendo. E é possível fazê-lo sem mudar as peças, apenas dando a elas novos posicionamentos e rotações. Se Messi centralizado tende a recuar, por que não transformá-lo em um atacante que se coloca entre o lateral e o zagueiro no limite da linha de impedimento para receber e decidir, como, por exemplo, Ronaldo e Romário faziam? O mesmo com Pedro, sempre do lado oposto para dividir a marcação. Seria a volta das diagonais, mas de atacantes, não ponteiros.

 

Por fim, André fechou seu texto sugerindo Messi pela direita e a volta de uma presença de área no time do Barcelona. Como mostrado aqui no Painel Tático, que analisou as duas partidas pelas oitavas da Champions, era necessário mudar a postura, mas, sobretudo, surpreender taticamente. Aquele 4-3-3 com Messi encaixotado e sem a presença de um centroavante entre os zagueiros estava tornando fácil a anulação do poder de decisão do Barcelona.

 

Milan 2 x 0 Barcelona – Jogo de ida das oitavas de final da Champions League: Ambrosini foi colocado atrás dos volantes, onde Messi gosta de trabalhar a bola e arrancar. Até Pazzini marcava muito pelo centro, embolando ainda mais o trânsito no campo de ataque do Barcelona. Com laterais presos e os onze jogadores compactados na marcação, o Milan jogou para impedir que o Barcelona jogasse, assim como Messi, que ficou encaixotado na marcação italiana.

 

 

Barcelona 4 x 0 Milan – Jogo de volta das oitavas de final da Champions League: Equipe Blaugrana, na teoria, no 4-3-3. Entretanto, a dinâmica demonstrava o 3-4-3 virtuoso que encantou o mundo sob o comando de Pep Guardiola. O “alargamento” da defesa do Milan foi feito com uma receita antiga e eficaz: presença de área para evitar uma cobertura plena da zaga adversária e dois alas bem abertos pelos flancos. Messi jogou mais pela direita, tentando reeditar as tabelas com Daniel Alves, conquistando, assim, aquilo que almejava: espaço para finalizar na entrada da área do Milan. Com Xavi e Iniesta circulando bastante, a compactação da equipe milanesa ficou comprometida, conseguindo o Barça obter vantagem numérica no meio e o predomínio tático da partida.

 

 

Ter alocado Messi como um falso ponta pela direita proporcionou ao jogador mais letal da atualidade chance de poder finalizar. Ambrosini, que saiu aclamado como um dos grandes jogadores da vitória do Milan por 2 a 0, no jogo de volta foi substituído e saiu atordoado em meio a intensidade promovida pelo Barça. Novamente escalado para ajudar no encaixotamento de Messi, dessa vez nem viu o argentino em campo. Os volantes do Milan correram demais e não conseguiram marcar pela movimentação, mas, nessa oportunidade, principalmente pelo posicionamento dos atletas do Barça.

 

 

Dinâmica comum da marcação do Milan durante o jogo: como muito bem delineado por PVC e já citado no início do texto, desta vez Messi não foi um falso 9, mas uma espécie de falso 7. O argentino jogou mais à direita, fazendo a função de ponta-de-lança entre a ponta-direita e o centro do ataque. Nesse setor, o confuso Constant não sabia se marcava o corredor aberto para Daniel Alves ou se encostava em Messi. Os volantes Flamini e Montolivo não podiam chegar, porque havia Xavi e Iniesta trabalhando como meias de criação. Ambrosini também ficou confuso com Villa entre os zagueiros e não teve velocidade para evitar as diagonais de Messi. Com dois alas bem abertos pelos flancos, conseguiu o time do Barcelona abrir no tablado o espaço para seu craque decidir. E, para Messi, qualquer palmo de campo pode ser fatal.

 

 

Raniery Medeiros, como sempre contextualizando a temática, foi convidado a participar do texto. Fazendo uma viagem ao processo histórico do posicionamento de Messi no Barcelona, completa seu raciocínio com um entendimento que faz todo sentido nesse Barça avassalador do século XXI: “Messi joga em função do esquema e o esquema em função dele. Se completam”. Abaixo a opinião de Raniery na íntegra. Desde já, agradeço pela participação do amigo:

 

- Falar do posicionamento do Messi é ter, em sã consciência, que o craque vai sendo modelado e sendo adaptado às suas características em campo. Fora de série, o camisa 10 do Barcelona, que antes não tinha a ‘obrigação’ em marcar, aprendeu, com Guardiola , que para se ter a bola, é preciso primeiro recuperá-la. Lionel, que em 2004 era aquele winger que atuava pela esquerda e se limitava a entrar em diagonal, começou a entender que, quanto mais espaço ele tivesse, melhor seria o seu rendimento ofensivo. Fato comprovado com a chegada de Pep Guardiola. Percebendo o potencial da ‘pulga’, Pep foi modelando seu atleta. Messi saiu da ponta esquerda e foi atuar como ‘falso 9’. Sua movimentação pelas zonas intensas de ataque aumentou. Ficando a frente dos zagueiros e nas costas dos volantes, o argentino circulava com certa liberdade e dava opções para a entrada de Xavi e Iniesta dentro da área. Coincidência ou não, foi através do novo posicionamento que ele passou a ser mais goleador e incisivo. Antes ele corria, armava e servia. Já em 2009/2010, o craque passou a fazer isso na zona letal dos adversários. A confusão para saber quem o pegaria foi intensa. Dessa maneira, Dani Alves tinha o corredor ao seu favor. Muitos questionam que hoje ele é mais lento. Falsa impressão. Se antes ele dava 4, 5 toques na bola, agora ele faz a ação acontecer com 2 ou 3 e já se encontra em posição de finalização. Com o tempo, o craque do Barça foi aprendendo a marcar (fazer pressão). Exemplo para muita estrela que dá migué e não atua de forma coletiva. Com a chegada de Vilanova, o atleta passou a se movimentar menos e o Barça ficou ainda mais previsível. Correto! No entanto, é a hora que surge o talento, o drible inesperado, o lado “EU” de Messi. Mesmo sendo bem vigiado e circulando menos pelas zonas letais do ataque, ele continua a marcar gol atrás de gol. O lado individual em prol do coletivo. Todo atleta vai adaptando o seu jogo ao longo da carreira. Vejam os exemplos em outros esportes: Jordan, Phleps, Giba, Federer, Hortência, Marta, etc. Guardada as devidas proporções. Messi é, sem sombra de dúvidas, um craque. Quando pensamos que ele está delimitado e se movimentando menos (caso da atual temporada), ele vai lá e muda o cenário. Messi joga em função do esquema e o esquema em função dele. Se completam.

 

Interessante o texto feito por Raniery Medeiros porque sua abordagem trata também da adaptação do jogador ao contexto de sua carreira, que vai mudando com o tempo (a famosa capacidade do atleta de se reinventar). E isso nunca será problema para Lionel, até porque seu nível de genialidade também é sinal de inteligência e sensibilidade. Cabe então, ao comando técnico do Barça, buscar sempre saídas como essa para que o craque possa decidir. E que não se resuma somente no 3-4-3 holandês, o que também pode se tornar óbvio.

 

Iniesta passando a bola para Messi, que em seguida fez o segundo gol dele e do Barcelona. Corredor aberto para Daniel Alves, espetado na ponta direita. Pedro entra pela esquerda, com Xavi e Iniesta na ligação. Messi e Villa se posicionam como atacantes e da mesma forma: entre o zagueiro e o lateral.

 

 

De início, essa posição de falso 7 deve ser usada novamente nas quartas pelo Barcelona, com Villa jogando mais próximo do gol. Muitas vezes a tática e o desenho padrão são vistos com menor importância, o que não deveria acontecer e, no nosso país, infelizmente ocorre com mais freqüência. Além da habilidade e dos lances de magia, proporcionado pelos jogadores, esse xadrez, esse quebra cabeça tático e estratégico, também é instigante e peça fundamental de toda a engrenagem. Essa saída tática para Messi decidir foi um exemplo.

Hoje, no sorteio das quartas de final da Champions League, saiu como adversário do Barcelona o Paris Saint Germain, equipe postada por Ancelotti em duas linhas de quatro que se compactam na marcação. Provavelmente, Tito e Roura irão enfrentar outro ferrolho e a falta de espaço na intermediária do adversário. Para os torcedores do Barça resta torcer para que o ciclo de inovações táticas não seja um pacote restrito aos momentos de necessidade. Abraço!

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

 

 

https://espn.estadao.com.br/post/313267_lionel-messi-movimenta-se-menos-no-barcelona-atual

 

https://espn.estadao.com.br/post/315839_o-lugar-onde-messi-atuou-ajudou-o-genio-a-colocar-o-milan-diante-de-sua-realidade-atual

 

https://espn.estadao.com.br/post/311377_a-inversao-qual-o-antidoto-do-barcelona-para-a-formula-dos-adversarios-que-nao-o-dominam-mas-vencem

 

https://espn.estadao.com.br/video/315740_champions-league-oitavas-jogo-de-volta-melhores-momentos-de-barcelona-4-x-0-milan

 

 

Tópico: DESTRANCAR MESSI PODE SER A CHAVE PARA O BARCELONA SE REERGUER COMO GRANDE FAVORITO

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Marcus Vinicius | 18/03/2013

Salve Victor!

Uma hora iriam "descobrir" uma forma de tentar para essa equipe histórica do Barcelona, como podemos ver por exemplo nos ultimos embates contra: Real Madrid e o primeiro jogo da UCL contra o próprio Milan.

Os jogadores do barça são muito versáteis, espero que tito/roura consiga "reinventar" o jeito do Barcelona jogar em determinados momentos, sem fugir de suas caracteristas, espero ainda ver por muitos anos este espetaculo que a equipe Blaugrana nos proporciona.

Abraço!

Re:.

Victor Lamha de Oliveira | 01/04/2013

Salve Marcus! A versatilidade que você ressaltou em seu comentário é o que propicia ao Barcelona tanto tempo de predomínio, além da qualidade magnífica do elenco e do padrão tático invejável. Também espero que o Tito e o Roura consigam "reinventar" o jeito do Barcelona jogar em determinados momentos, o que será cada vez mais necessário, afinal a geração vai envelhecendo e as jogadas vão ficando manjadas. Na verdade, creio que esse elenco, esse time histórico, merece um treinador mais qualificado, Concorda? Abraço!

Análise perfeita

Lilian Cristine Rangel | 16/03/2013

Parabéns Victor, por sua bela análise desse novo momento do Barça. Sempre pautei minhas análises, bem críticas por sinal, mesmo sendo uma culé apaixonada, na 'fuga' desse padrão Barça de jogar, quando as contratações isas estsvam ruins. Contra defesas cerradas, nadavcomo ter uma nova postura, bem mais objetiva e utilizando as mesmss peças. Mais uma vez, Victor meus mais sinceros parabéns.

Re:Análise perfeita

Victor Lamha de Oliveira | 01/04/2013

Olá Lilian! É um prazer recebê-la aqui no Painel! A casa é sua! Obrigado pelos elogios! Você observou bem: as peças não mudaram, mas sim a postura. Era o que estava faltando para o Barça antes dessa reação contra o Milan. Vamos aguardar os duelos contra o PSG. Abraço e volte sempre!

Interessante

Juninho Feitosa | 15/03/2013

É disso que o Barça precisa para voltar aos grandes êxitos e ao mesmo tempo fazendo grandes jogos: reinventar-se.
Ótima análise Victor.
Abraço!

Re:Interessante

Victor Lamha de Oliveira | 01/04/2013

Grande Juninho! Obrigado pela participação! O Barça precisa reinventar-se, como fez diante do Milan, saindo da obviedade daquele apático 4-3-3. O duelo contra o PSG pela Champions nos mostrará até onde esse Barça histórico de Xavi, Iniesta e Messi pode chegar, ainda com essa geração. Volte sempre! Abraço!

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