MUNDIAL DE CLUBES: TITE OPTA POR CENTROAVANTE E DOIS ARMADORES

08/12/2012 22:37

 

Antes de iniciarmos nossa reflexão tática, cabe a leitura da reportagem feita por Carlos A. Ferrari e Leandro Canônico para o globoesporte.com no dia 08/12/2012, direto de Kariya, no Japão:

 

 

Em treino 'pegado', Tite escala Guerrero e ensaia time para estreia

 

Com muitos torcedores nas arquibancadas, Corinthians faz trabalho tático com prioridade para a marcação ofensiva, sua grande arma na Libertadores

 

Em ritmo de jogo, o Corinthians fez neste sábado pela manhã, no Wave Stadium, em Kariya, o primeiro treino tático desde que chegou ao Japão. Com a presença da torcida nas arquibancadas e do centroavante Paolo Guerrero no ataque, o técnico Tite colocou em campo a equipe que estreará no Mundial de Clubes, dia 12 de dezembro, contra o vencedor do confronto entre Sanfrecce Hiroshima e Al Ahly.

O peruano trabalhou sem nenhuma restrição e mostrou estar recuperado do problema no joelho direito que sofreu no clássico diante do São Paulo, no último domingo, no Pacaembu, pelo Brasileirão. O jogador passou toda a semana em tratamento e era aguardado para a atividade deste sábado. Caso treinasse normalmente, teria presença certa na primeira partida do torneio internacional.

Tite, aliás, exigiu muita intensidade dos atletas. Ele diminuiu pela metade o tamanho do gramado para trabalhar a compactação da equipe. Além disso, ensaiou a formação com a marcação ofensiva sobre os defensores do time reserva, uma das principais armas alvinegras durante a campanha do título da Libertadores.

O sistema tático também seguiu o mesmo, o 4-2-3-1. Na linha de três jogadores atrás de Guerrero, Emerson ficou posicionado pela esquerda, com Douglas mais centralizado na armação e Danilo aberto pela direita. Como de costume, o volante Paulinho teve liberdade para se aproximar do ataque, com Ralf fixo na marcação. Falando bastante durante a atividade, Tite estimulou a disputa de bola e viu várias jogadas mais bruscas.

Esta foi a primeira vez que os torcedores do Corinthians puderam acompanhar um treinamento no Japão. Os portões foram abertos minutos antes de a equipe entrar no gramado. A Fiel ocupou boa parte das arquibancadas do Wave Stadium e cantou durante todo trabalho do grupo. Claro, não faltou a provocação ao rival Palmeiras, com os gritos de “Você já caiu, Porco”.

O Timão continuará treinando em Kariya nos próximos dias. O estádio de Toyota só será usado na véspera da estreia, no treino oficial da Fifa. No período da tarde deste sábado, os jogadores ficarão no hotel para uma atividade na academia.

O Corinthians treinou com: Cássio, Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf, Paulinho, Douglas e Danilo; Emerson e Guerrero.  

 

 

No final de outubro e iniciando o mês de novembro, André Rocha gravou com Tite um bate bola tático, sendo este dividido em cinco vídeos e publicado no Olho Tático, agora na ESPN. Os referidos vídeos configuram verdadeira aula de aplicação do 4-2-3-1, além de expor com clareza o que o treinador do Corinthians pensa sobre o aludido esquema. Nessa toada, e aproveitando a notícia acima, destaquei o que achei mais importante para analisar a opção de Tite pelo centroavante.

A entrevista, ilustrada com campinhos e botões, como deseja o apaixonado por análises táticas, iniciou com uma pergunta excepcional de André: como funciona o 4-2-3-1, no aspecto tático, sem o atacante de referência? A partir da pergunta, o treinador do Corinthians iniciou sua argumentação, sempre indagado com maestria por André Rocha. Abaixo das fotos está descrito o número de cada vídeo correspondente:

 

Vídeo 1 - O camisa 9 e a retenção da bola - Demonstrando no tablado o posicionamento do centroavante, Tite explicou que ter um jogador de referência, que faça a retenção da bola no ataque, é útil para que um dos meias laterais possa avançar na diagonal ou pelo flanco, dando profundidade ao time. Também ressaltou que, quando a equipe se vale de dois armadores, o atacante fixo também pode cair pelos lados, promovendo, assim, a profundidade.

 

 

Vídeo 1 – Retenção e compactação na transição ofensiva - Com as mãos, após adiantar os botões no tablado, Tite explicou que jogando com o legítimo camisa 9, a equipe passa a possuir uma referência para que todo time possa chegar. Também ressaltou que o centroavante de ofício proporciona um tempo maior para a equipe compactar-se. Se o camisa 9 retém a bola na frente, ele oferece tempo para a equipe avançar para o campo adversário, passando a jogar e tocar bola longe de sua área.

 

 

Vídeo 1 – Mecanismo de uso do falso 9 - Posteriormente Tite explica que, se ao invés do camisa 9, o treinador optar por um atleta de movimentação, a transição fica mais veloz, afinal não se tem mais o jogador da retenção. Entretanto, isso não é problema para o treinador, que tranquilamente ensina que “(o time) perde a retenção, mas ganha em outras virtudes e qualidades”. Assim, passou a discursar sobra o posicionamento de Emerson como falso 9. Disse que o Sheik trabalhou com liberdade de movimentação, ficando a retenção da bola a cargo de Alex e Danilo, como demonstra o treinador com as mãos. Emerson tinha como escopo buscar dar profundidade ao time. Tite também acha melhor que a retenção seja feita por “jogadores de organização”, para que a equipe possa sair e ter mais qualidade na penúltima bola. Para isso, em sua concepção tática, a equipe que se vale do 4-2-3-1 tem que jogar, na linha de três meias, com dois armadores (para retenção e qualidade no trabalho de bola) e um jogador de velocidade (para dar profundidade). Também ressalta que, jogando com dois armadores, aumentam as possibilidades da penúltima bola ser trabalhada com qualidade para os dois jogadores de velocidade, no caso do Corinthians, na Libertadores, Jorge Henrique e Emerson. Sem um meia lateral, que proporcione o binômio velocidade-profundidade, a equipe não consegue fazer a transição ofensiva com qualidade, bastando para o adversário marcar forte e encurtar os espaços, afinal, sem velocidade, perde-se a bola longa. No final, concluiu Tite que ter dois armadores e um jogador veloz na linha de meio proporciona o que ele chama de equilíbrio entre as funções e posições.

 

 

Vídeo 2 – Compactação defensiva: a referência de onde marcar é a bola – André inicia indagando Tite sobre a marcação pressão executada pelo Corinthians, que muitas vezes é feita no campo do adversário e que, de forma reiterada, é tida como uma verdadeira retranca. E o treinador foi rápido e objetivo na resposta: “Tem uma coisa que é fundamental: o Corinthians compacta com relação a bola”. Ou seja, o bloco (formado pela compactação) chega na zona em que a pelota está no campo. E faz outra observação: marcação pressão no campo do adversário só existe contra equipes que saem jogando, tocando a bola. Contra time que joga na ligação direta, se valendo de dois pivôs, por exemplo, não funciona. Sobre marcar compacto em duas linhas no campo de defesa, quando atacado, Tite colocou que é apenas uma forma de “resguardar a equipe na zona defensiva”. Também ressaltou que a linha de defesa (laterais e zagueiros) e os dois volantes, como indica com os dedos no tablado, são “posicionais”, sendo eles que proporcionam a compactação defensiva com relação à bola.

 

 

Vídeo 5 – O Chelsea – André Rocha iniciou a quinta e última parte do vídeo falando desse Chelsea do segundo semestre de 2012, um time mais leve e que sai mais para o jogo. Sobre o tema, Tite mostrou bastante cautela quanto à escalação dos quatro homens de frente. Ainda não tinha se definido sobre jogar com pivô ou falso 9, nem se iria jogar com dois meias laterais de velocidade ou dois armadores (um pelo lado e um pelo centro).Somente a linha de quatro da defesa e os dois volantes estavam definidos, afinal, de acordo com o treinador corintiano, são a sustentação do time.. Além disso, afirmou Tite: “O Corinthians não pode fugir de suas características, isso é premissa pra mim. Se ele sair de suas características, a possibilidade de perder fica maior. Eu não vou fazer isso.” Completou dizendo que sua ideia como técnico é adaptar seu time ao adversário, e não jogar em função dele. Por fim, um questionamento importantíssimo que André fez ao treinador do Timão: “E se o Chelsea te empurrar, marcando sob pressão no seu campo de defesa, como fizera o Fluminense no Brasileiro? E Tite respondeu com objetividade: “Se o adversário marcar na frente, vou precisar de retenção e de ter profundidade”. Concluiu dizendo que para ter profundidade e eficácia nos contragolpes, precisa de um jogador para ocupar os espaços nas costas, ou então um pivô que retenha a bola para desafogar o time e trazê-lo para o campo de ataque. Concluiu: “A bola não pode bater e voltar e vou precisar de profundidade”. E essa, com certeza, será a função de Emerson.

 

 

A grande dúvida de Tite era escalar ou não o centroavante, o que muda totalmente a dinâmica tática do time. Ficou claro que o treinador tem duas preocupações fundamentais: retenção para jogar no campo do adversário e profundidade para os momentos de ataque e contragolpe. Porém, de acordo com a reportagem reproduzida acima, optou Tite por massificar a retenção no campo adversário, além de tentar trazer a campo a mesma marcação pressão que conquistou a Libertadores.

 

Dúvida de Tite: No lado esquerdo o Corinthians com a retenção feita pelo armador e pelo pivô, sendo a profundidade executada pelos meias laterais. O time paulista chegou a jogar assim durante o período de testes realizado na reta final do Brasileirão. No lado direito a fórmula que conquistou a América: a retenção feita pelo meia central e por um meia lateral armador, com o outro meia lateral e o falso 9 dando profundidade. Entretanto, parece que para o Mundial o treinador do Timão preparou uma fórmula diferente, com dois meias armadores e o centroavante na retenção, além de Emerson com liberdade de segundo atacante para propiciar a tão citada profundidade.

 

 

Opção adotada por Tite: 4-2-3-1 com jeito de 4-2-2-2. Emerson deverá jogar como um segundo atacante, marcando o lateral adversário somente até a intermediária, afinal será responsável pela profundidade do time. Assim, Douglas deverá compor o setor na transição defensiva, o que demonstra a intenção de marcar com os cinco homens de meio, inclusive o Sheik que será, como explicado, mais homem de frente do que meia. A opção pelo centroavante e dois meias armadores demonstra, como citado na reportagem, a preocupação em jogar no campo do adversário, dando ênfase para a retenção da pelota.

 

 

Gostei do time idealizado por Tite, um dos treinadores mais inteligentes que temos no plano tático. A defesa continua praticamente a mesma e o meio campo, com esses jogadores, se torna ainda mais técnico e consistente, tanto defensivamente como ofensivamente. Também prefiro Emerson de segundo atacante, jogando mais aberto pelo flanco. Não gosto de vê-lo atuando de costas como falso 9. Acredito que ceifa suas características fundamentais. O que vocês acharam da opção do comandante corintiano? Abraço!

 

 

 

Reportagem globoesporte.com:

 

https://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2012/12/em-treino-pegado-tite-escala-guerrero-e-ensaia-time-para-estreia.html

 

 

Vídeos de André Rocha com Tite publicados no Olho Tático (ESPN Brasil):

 

https://espn.estadao.com.br/post/289025_papo-tatico-com-tite-parte-1-armacao-do-corinthians-com-ou-sem-guerrero

 

https://espn.estadao.com.br/post/289930_papo-tatico-com-tite-parte-2-resposta-as-criticas-sobre-postura-defensiva

 

https://espn.estadao.com.br/post/289931_papo-tatico-com-tite-parte-3-conscientizacao-de-alessandro-fabio-santos-e-douglas

 

https://espn.estadao.com.br/post/289932_papo-tatico-com-tite-parte-4-ansiedade-e-tensao

 

https://espn.estadao.com.br/post/289933_papo-tatico-com-tite-parte-5-o-chelsea

 

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira