O LEGADO TÁTICO DE MANO MENEZES: PARTE 1

29/03/2013 18:35

 

Nesse momento difícil vivenciado pela Seleção Brasileira, o Painel resolveu esmiuçar taticamente a Era Mano Menezes e o legado tático por ela deixado, o que muito explica as escolhas feitas pelo atual treinador do Brasil. Porque Felipão tem optado por Hulk? Porque Neymar livre a frente de uma linha de quatro? Scolari tem se mostrado em dúvida entre o 4-2-3-1 com Neymar pela esquerda e o 4-4-2 inglês com o craque santista de segundo atacante. As respostas? Muitas delas estão no trabalho de dois anos realizados por Mano Menezes na Seleção. Espero que gostem.

 

 

Parte 1: O início promissor e as primeiras decepções

Parte 2: A Copa América e o caminho até Londres

Parte 3: Uma nova equipe após as Olimpíadas

Parte 4: O que pode ser aproveitado por Scolari

 

 

                                                                                                

O início promissor e as primeiras decepções

 

 

Mano Menezes assumiu a seleção com a missão de renovar e, novamente, tornar o futebol brasileiro protagonista. Do bom trabalho feito por Dunga e Jorginho, nada foi aproveitado pelo novo treinador, que começou do zero, iniciando a formulação de uma nova equipe. Todos acusavam Dunga de ter deixado Ganso, Neymar e Adriano fora da Copa, preferindo o treinador levar Kleberson, Josué e Grafite. Se o que faltou em 2010 foi juventude e um pouco mais de habilidade, foi atendendo ao clamor público que Mano montou seu primeiro time:

 

Estados Unidos 0 x 2 Brasil  – Nova Jersey  (EUA) - 10/08/2010: em sua estreia pela Seleção, Mano agradou a todos e montou uma equipe jovem, leve e habilidosa. O 4-2-3-1 canarinho sobrou diante do costumeiro 4-4-2 britânico dos americanos. Nessa partida vimos a volta de uma proposta de jogo ousada e que ocupou o campo de defesa do adversário na maior parte do tempo. Neymar também estreou bem, fazendo seu primeiro gol com a amarelinha. Ganso comandou o meio campo com classe, valorizando a posse de bola e esbanjando visão na distribuição das jogadas. Até elástico o jogador deu, além de quase ter feito um golaço.

 

 

Após a promissora estreia, o Brasil fez dois jogos mais fáceis e também venceu: ganhou do Irã em Abu Dhabi por 3 x 0 e da Ucrânia por 2 x 0, em partida disputada na Inglaterra. Até que veio o primeiro grande desafio da Era Mano: um clássico contra a Argentina, que não vencia a Seleção Brasileira há cinco anos. Com Ganso machucado, Mano já demonstrava preocupação com os aspectos defensivos daquele 4-2-3-1 tão leve e jovial. Por isso, em seu primeiro grande jogo como técnico do Brasil preferiu escalar e equipe num 4-3-1-2, dando nova chance para R10:

 

Brasil 0 x 1 Argentina – Doha (Qatar) - 17/11/2010: com Ganso e Pato lesionados, Mano tentou manter a base, colocando Ronaldinho no lugar de Ganso e Elias na vaga de Pato, desenhando em campo um 4-3-1-2. A Argentina, que iniciou o jogo no 4-2-3-1 com Messi pela direita, jogou o segundo tempo no 4-4-1-1, com Lionel na ligação. Foi nessa função, e numa arrancada após Douglas perder a bola, que o craque fez o gol da partida, finalizando o jejum de vitórias da Argentina diante do Brasil. Num jogo muito disputado no meio de campo, e decidido nos acréscimos, o Brasil teve muita dificuldade de penetrar na área do adversário, com Ronaldinho, em algumas oportunidades, avançando e formando uma espécie de 4-3-3. O Brasil teve 45% de posse, mas finalizou mais que os argentinos: 15 x 9. Neymar, se jogando muito (e não conseguindo ludibriar o árbitro), pouco rendeu. Foi individualista e não acrescentou nada ao time. Ronaldinho também foi sonolento e improdutivo, o que acarretou o sumiço de seu nome nas próximas convocações.

 

 

Depois da derrota para a Argentina, o Brasil só voltou a jogar em 9 de fevereiro de 2011, novamente um clássico, sendo dessa vez contra a França em Paris. Com muitos jogadores lesionados do meio para frente, Mano novamente mudou a equipe taticamente para o duelo contra os franceses, escalando um esquema bem peculiar, uma espécie de 4-2-3-1 bem torto, com dinâmica de 4-2-2-2 e que buscava montar linhas de marcação. As contusões e a falta de continuidade do padrão técnico de muitos atletas começavam a dificultar a vida de Mano Menezes.

 

França 1 x 0 Brasil  – Paris  (França) - 09/02/2011: com desfalques do meio para frente, Mano desenhou em campo uma espécie de 4-2-3-1 bem torto, com Hernanes de articulador e também incumbido de recuar e marcar pelo setor esquerdo, liberando Robinho praticamente como segundo atacante. Renato Augusto ficou bem preso pela direita, se limitando a marcar e só partir na boa. O time francês jogava também num 4-2-3-1, porém muito mais bem definido. A expulsão de Hernanes, aos 38’ da primeira etapa, após falta grotesca em Benzema, mudou totalmente a partida. Mano postou o Brasil num 4-4-1, mas acabou levando o gol de Benzema que consagrou mais uma vitória francesa diante do Brasil.

 

 

No dia 27 de março em Londres, no Emirates Stadium, o time brasileiro enfrentou a Escócia, sendo este o último jogo antes da revanche contra a Holanda, que aconteceria dois meses depois em Goiânia. Novamente uma equipe bem diferente do meio para frente e a busca por uma padronização, ainda que bem assimétrica, do 4-2-3-1. Todos esperavam Lucas (do São Paulo na época) escalado como titular nessa partida. Entretanto, procurando maior segurança para a equipe, visto que Neymar não marcava pela esquerda, Mano preferiu optar por Elano e Jadson na meia canha.

 

Brasil 2 x 0 Escócia – Londres (Inglaterra) - 27/03/2011: novas mudanças e retorno de um 4-2-3-1 confuso pelo meio, que virava uma espécie de 4-3-3 quando Elano recuava para fazer o terceiro volante. Mano avançou suas linhas para cima do cauteloso 4-1-4-1 escocês, mas, novamente, teve problemas na articulação central da equipe. Neymar decidiu quando saiu da esquerda em diagonal para a área, sua jogada típica. O time da estreia contra os EUA ainda ecoava como paradigma, mas com Ganso e Pato machucados, Mano não conseguia escalar novamente a equipe. E, nessa toada, continuou testando.

 

 

E chegou a hora da revanche contra os holandeses, que no ano anterior haviam eliminado a Seleção nas quartas da Copa de 2010. Era o sétimo jogo da Era Mano e seu terceiro duelo contra uma grande seleção do futebol mundial. Jogando em casa, a torcida tinha certeza que o jejum de vitórias contra uma grande equipe (última vitória tinha sido contra a Inglaterra em 2009) acabaria contra a Holanda. Novamente sem poder contar com Ganso, era mais uma oportunidade do treinador brasileiro mostrar suas armas táticas rumo ao protagonismo.

 

Brasil 0 x 0 Holanda – Goiânia (Brasil) - 04/06/2011: além do forte calor, os holandeses, no mesmo 4-2-3-1 da Copa de 2010, jogaram sem Van Bommel, Sneijder e Van der Vaart. Após a vitória no mundial, não perder parecia ser o objetivo do time laranja. Mais uma vez o Brasil não conseguiu se impor, faltando criatividade ao 4-3-3 montado por Mano Menezes.Sem qualidade na intermediária, e com os laterais presos na marcação, Robinho e Neymar tiveram que recuar para criar e isolaram Fred. Na época, em post sobre o jogo, André Rocha foi cirúrgico em sua observação: “O maior desafio de Mano é tornar o Brasil efetivamente protagonista, jogando com autoridade diante de qualquer adversário e impondo seu estilo de jogo, condizente com a escola do país: toque de bola, postura ofensiva, união de beleza e eficiência. Arte e resultado. Por que não consegue? Uma das respostas é simples: a infelicidade de não poder repetir a base ofensiva dos 2 a 0 sobre os Estados Unidos na estreia. As contusões em série de Alexandre Pato e Paulo Henrique Ganso inviabilizaram a manutenção do ousado e ajustado 4-2-3-1 e deixaram bem claro para o técnico que a reposição não é tão simples, especialmente do camisa dez do Santos”. Na segunda etapa, Mano Menezes tentou sanar esse vazio da intermediária e postou o Brasil também num 4-2-3-1, com Elano pela direita, Neymar pela esquerda e Robinho criando pelo centro. A equipe melhorou e houve aumento do volume de jogo ofensivo, mas por poucos minutos. No final, um 0 x 0 sonolento e decepcionante.

 

 

Depois de vencer a Romênia por 1 x 0, em jogo disputado na cidade de São Paulo, enfim chegava a Copa América, primeiro grande torneio de Mano como treinador do Brasil. O fato da competição ser disputada na Argentina de Messi aumentava ainda mais a expectativa de uma final contra os donos da casa, sem contar a seleção Uruguaia, que vinha forte após o quarto lugar na Copa da África. Chegava também a hora do badalado time, que venceu os EUA na estreia do treinador, provar em campo a expectativa do torcedor brasileiro. O único desfalque da equipe que enfrentou os americanos, em outubro de 2010, era David Luiz, contundido. Continuamos essa viagem na parte 2 da série "O legado tático de Mano Menezes". Abraço!

 

 

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/08/10/eua-0x2-brasil-o-resgate-da-autoridade/

 

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/11/18/brasil-0x1-argentina-%E2%80%93-parte-1-%E2%80%93-as-%E2%80%9Caves%E2%80%9D-raras-de-mano-menezes/

 

https://www.esquemastaticos.com.br/2010/11/argentina-1x0-brasil-analise-tatica.html

 

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2011/02/09/franca-1x0-brasil-38-minutos/#comments

 

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2011/03/27/brasil-2x0-escocia-com-neymar-a-espera-de-ph-ganso/

 

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2011/06/05/brasil-0x0-holanda-%E2%80%93-sem-meio-campo-nao-ha-protagonismo/

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

Tópico: O LEGADO TÁTICO DE MANO MENEZES: PARTE 1

Elano

Maurício | 31/03/2013

Fala Victor! Show o post heim, gostei!
Vendo aqui,nem lembrava mais do lano jogando com o Mano! Já fez o papel de 10 ainda,será que ele não teria mais chance? Tem agora o jogo conta a Bolívia né,vamos ver se não vai ser chamado!
Robinho é outro,será que não poderá ser aproveitado na seleção, tem experiência,pode ser o reserva do Neymar tbm, só que ele não vem jogando de titular no Milan né! Opões não faltam né!

Re:Elano

Victor Lamha de Oliveira | 01/04/2013

Grande Maurício! Está sumido gaúcho! Estou sentindo sua falta aqui no Painel! Sobre o Elano, outro dia até debatemos isso lá no Grupo Discussão Tática. Eu ainda acho que o Elano tem futebol e experiência para compor o elenco. Jogador rodado, faz a retenção da bola na frente, bate bem de fora da área e não costuma errar passes. Elano é um dos remanescentes da Era Dunga que mereciam mais uma chance com Felipão. Já Robinho está muito mal...Atualmente, no Milan, é a segunda opção no banco, ficando atrás do jovem francês Nyang. Tem que melhorar muito para voltar para a Seleção. Abraço!

Momento complicado

Raniery Medeiros | 30/03/2013

Victor,
gostaria de dizer o quão orgulhoso eu fico a cada vez que vejo os seus textos. Posso sim, afirmar que aprendo, e muito, sobre táticas ao ler os seus plausíveis argumentos.

Parabéns!

Como bem demonstrado por você, a seleção estava buscando uma identidade. Nada mais natural do que tentar encontrar o caminho tático mediante os amistosos.

É complicado quando se assiste futebol (seleção) e sempre encontramos um esquema diferente. Td bem que as contusões estavam lá. Mas sério. Mesmo sem alguns jogadores, o esquema precisava ser mudado tantas vezes? Outrora, eram os "caras" quem queimavam a cabeça para tentar imaginar a forma como a canarinho jogaria. Agora somos nós oriundos do receio e da insegurança.

A maior prova disso foi esse jogo contra a argentina. Um baile. Contra a Holanda, naquele calor, o jogo foi péssimo...sonolento, sem criatividade.

Podemos dizer que contra a França a expulsão de Hernanes nos prejudicou. Ué! Mas os caras num fazem treinamento de 11 contra 10?

Para mim, a seleção perdeu, e muito, o brilho. Mano quis renovar tanto, que deixou o peso e toda a responsabilidade nas costas das jovens promessas. Seria necessário blindar Neymar, Oscar, Lucas e Ganso. Como proceder? Colocar bons jogadores experientes para atuar ao lado deles ou, na pior das situações, fazendo parte do grupo. Isso ajudaria os "moleques" a não se sentirem obrigados de carregaram o mundo em suas costas.

Quando Mano, finalmente, encontrou um modo de jogar, a escória o tirou do comando. Pode perceber que a maioria das seleções possuem um camisa 9 que se movimenta e participa do jogo. E os nossos?

Entra Felipão e as coisas continuam a mesma coisa. Do que adianta ter o 4-2-3-1 se o nosso número 9 não participa ou incomoda a zaga adversária? Não é uma crítica ao Fred. É algo que podemos constatar com todos os que por lá passaram. Movimentação, jogo rápido, objetividade, posse de bola visando o gol.

Hulk? Não é nenhum craque, mas eu acredito que para entrar no grupo, é perfeito. Também sugeri o Elano (questão opinativa). O momento é de fincar um esquema e procurar as peças. E não o contrário. Se for assim, ficaremos batendo cabeça e sendo rodinha de bobo para os adversários.

Ter a posse de bola nem sempre significa objetividade. Com Mano as coisas, já no fim, começaram a dar certo. Felipão começará do zero. A responsabilidade fica em Neymar e Oscar. Mas e o centroavante? Ok! O Fred vem fazendo gols. Mas será que se ele participasse mais do jogo, as coisas não iriam pender para a maior facilidade durante a partida?

Nossos volantes ainda estão indefinidos. Sim...copiem Espanha, Alemanha e Itália. Ou até mesmo a argentina, com Gago e Mascherano. Coloquemos uma base e deixem jogar.

Abs.

Re:Momento complicado

Victor Lamha de Oliveira | 01/04/2013

Grande Raniery! Sempre um prazer recebê-lo amigo! Posso te dizer que eu me encho de orgulho ao ler seus elogios, uma pessoa tão equilibrada ao pensar e falar sobre o futebol como você! O Mano não teve peito de bancar um 4-2-3-1 com tantos jovens antes da Copa América, o que acarretou essas mudanças contínuas de sistema tático. Nesse momento faltou experiência para o nosso ex-treinador, que tinha um falso apoio da malsinada CBF. A todo momento, Mano tinha que provar ter gabarito para ser técnico da Seleção, e isso atrapalhou demais a evolução do seu trabalho. Quando o "time da estreia", exigido pelo clamor popular, afundou na Copa América, as coisas pioraram. É isso que veremos no próximo capítulo da série. Como sempre, conto com sua participação! Também acho que o Hulk tem vaga no grupo e vou além: hoje tem vaga no time titular. Você também comentou que "ter a posse de bola nem sempre significa objetividade". Volume de jogo ofensivo também não. Nosso futebol sempre foi uma mistura de velocidade e objetividade. E Mano teve muita dificuldade para encontrar esse ponto de equilíbrio. Abraço!

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