BAYERN 2 x 2 CHELSEA: ESPERADO DUELO ENTRE MOURINHO E GUARDIOLA É DECIDIDO NAS PENALIDADES

30/08/2013 20:46

 

A decisão da Supercopa da UEFA desse ano se tornou especial pelo duelo entre os rivais Guardiola e Mourinho. O português, mantendo seu estilo, criticou o trabalho de Pep no time bávaro, apimentando ainda mais o clima do duelo. Mourinho não mostrou muita empolgação com o comando de Guardiola. Para o comandante lusitano, os bávaros não estão no mesmo nível da última temporada, quando levaram a Tríplice Coroa. Assim declarou Mourinho na semana passada (link do globoesporte.com abaixo):

 

- O Bayern de Jupp Heynckes foi o melhor time da Europa. Agora, eles têm um novo treinador e novos jogadores... Não estou seguro de que sigam sendo tão bons (declaração dada em entrevista ao jornal alemão “Bild”).

 

Em excelente texto sobre o Chelsea de Mourinho (link do impedimento.org abaixo), Eduardo Cecconi explica como o treinador português voltou ao time inglês modernizando e resolvendo problemas antigos do 4-2-3-1. Com a bola, como destacou Cecconi, Mourinho permite ao trio de meias “bagunçarem o sistema”, tirando a obviedade da transição ofensiva. Sem a bola, vem tentando resolver o “ponto-cego” do esquema da moda (aquele espaço entre o ponta, o volante e o lateral).

O supracitado texto é elucidativo e recomendo a leitura. Nele, como citado, Cecconi destrincha bem a intenção de Mourinho, que é fazer duas estratégias bem definidas, uma para cada transição, sendo este um dos traços do futebol moderno. Já Guardiola, em contrapartida, até o momento não conseguiu apresentar nada de novo em seu trabalho no Bayern de Munique. Alguns testes inusitados na pré-temporada e um maior apego à posse de bola são os pequenos traços de Pep que visualizamos no time alemão.

Muitos, aliás, vêm criticando o treinador espanhol pelo fato de preocupar-se muito com aquela posse enfadonha da bola, o que vem tirando do Bayern a intensidade na transição ofensiva que caracterizou a última temporada, eivada de glórias. Hoje, em Praga, na esperada decisão, nenhuma novidade no aspecto tático (numericamente falando). Assim que saíram as escalações, deu para perceber que Mourinho viria no 4-2-3-1 e Guardiola no 4-1-4-1, esquemas adotados pelos treinadores, por enquanto, na temporada.

 

Chelsea no 4-2-3-1 e Bayern no 4-1-4-1: a equipe inglesa atuou marcando com duas linhas compactas. Oscar e Torres eram responsáveis por pressionar a saída de bola e dar o primeiro bote. Sabendo da força do lado esquerdo do adversário, Mourinho prendeu Ivanovic para cuidar melhor de Ribéry. Pep mudou com relação ao que estava fazendo no Campeonato Alemão e alocou Kroos como primeiro volante. Este era o responsável pela saída de bola, com Lahm aproximando para ajudá-lo. Enquanto isso, Müller arrastava Ramires e mergulhava rumo à área do Chelsea. Aos 37’, Guardiola colocou Lahm como primeiro volante, Müller pela direita e Kroos pela esquerda.

 

 

Mourinho não se opôs ao predomínio de que gosta Guardiola. O treinador lusitano compactou sua equipe e apostou numa transição veloz e incisiva, deixando o Bayern propor o jogo. E o Chelsea soube jogar com o pouco tempo em que obteve a bola, encontrando espaços e aplicando belos contragolpes, como no lance do gol e no flagrante acima. No lance, Torres abre como ponta após receber passe de Oscar. Enquanto isso, os ponteiros centralizam rumo à área. Novamente, na primeira etapa, como descreveu Cecconi, a troca de posição dos meias foi intensa na transição ofensiva.

 

 

Como demonstrado aqui no Painel Tático (link ao final do texto), o Bayern sempre ataca formando uma espécie de 4-2-4 na transição ofensiva, com Müller jogando como um centroavante, o que propicia ao time ficar no mano a mano com a linha defensiva do adversário. Quando um dos meias centraliza para criar, como no flagrante em que Ribéry faz a diagonal para abrir o corredor para Alaba, o lateral sobe e monta a linha de quatro no ataque. Esse é um resquício tático do time de Heynckes que Guardiola sabiamente vem tentando manter.

 

 

A progressão dos números referentes à posse de bola descrevem bem a etapa inicial. Posse de bola: 15’ – Bayern 75% x 25% Chelsea; 20’ – Bayern 68% x 32% Chelsea; 25’ – Bayern 63% x 37% Chelsea; 35’ – Bayern 60% x 40% Chelsea; 40’ – Bayern 59% x 41% Chelsea; 45’ – Bayern 62% x 38% Chelsea. O Bayern iniciou com uma posse avassaladora, mas o Chelsea foi aos poucos, e constantemente, equilibrando o tempo com a pelota nos pés.

Aos 8’, Hazard rompeu centralizando e acionou Schürrle, que deu belo passe para Torres marcar. O gol nasceu de uma transição veloz realizada num contragolpe, o que pegou a defesa do Bayern aberta. Mas, mesmo vencendo, o Chelsea não abriu mão de jogar, sendo perigoso e incisivo com a bola dominada. Na primeira etapa, o time de Mourinho foi mais organizado, coletivo e eficaz, apesar de trocar um terço dos passes do adversário. O Bayern insistiu pela esquerda com Ribéry e se tornou óbvio.

Na segunda etapa, o Bayern voltou com uma postura ainda mais impositiva, demonstrando que iria enfatizar a movimentação ofensiva, o que faltou na etapa inicial. Para isso, Lahm foi alocado como primeiro volante e Kroos foi jogar na esquerda, formando um trio com Alaba e Ribéry. E foi assim que o time alemão empatou aos 2’: Kroos levou a marcação de Ramires para o flanco e liberou espaço para o francês bater de fora e empatar.

 

Painel tático do segundo tempo: Guardiola fez boas alterações que otimizaram a produção ofensiva do Bayern de Munique. Entraram Martínez e Götze nas vagas de Rafinha e Müller. Após as alterações, Martínez ficou bem preso à frente da zaga, quase como um terceiro zagueiro para propiciar a sobra, enquanto Kroos e Götze atuavam como meias de ligação. O 4-1-4-1 Bávaro teve muito mais cara de 4-3-3 e, por vezes, desenhou em campo uma espécie de 3-4-3. O Chelsea continuou compacto, mas acabou se retrancando por causa da pressão constante do adversário. Quando Ramires foi expulso aos 40’, Oscar veio fazer o flanco direito e Schürrle deu lugar a Mikel, jogando o Chelsea no 4-4-1.

 

 

No segundo tempo, o Bayern abandonou a postura acomodada da etapa inicial e intensificou a movimentação, privilegiando a intensidade dos tempos de Heynckes. Guardiola tentou algo mais dentro do seu estilo na primeira etapa, com Lahm alocado como meia para cadenciar o jogo, assim como Xavi fazia em seus tempos de Barcelona. Entretanto, aos poucos Pep vai entendendo que o tik-taka, mesmo que aplicado gradativamente no time alemão, jamais vai ser lento e cadenciado como se aplica no time catalão.

Enquanto Mourinho trouxe novas saídas para o 4-2-3-1, além de estar o adequando perfeitamente ao seu elenco, Pep parece tentar misturar um pouco do Bayern de Heynckes com soluções antigas do Barcelona, o que muitas vezes descaracteriza o time alemão. No segundo tempo, Guardiola se valeu do maior padrão tático deixado pelo seu antecessor e soltou a equipe, conseguindo ser mais preponderante com os 65% de posse que obteve. O treinador espanhol permitiu ao time ser mais vertical e ganhou com isso.

Empatado, o duelo foi para a prorrogação. Todos esperavam o Chelsea encolhido na defesa, mas Mourinho surpreendeu e compactou seu time no bloco alemão, tornando o jogo franco no que concerne ao espaço. Com essa postura, Hazard fez belo gol aproveitando os espaços em outra centralização veloz na transição ofensiva. Com o placar adverso e um jogador a mais, na segunda etapa da prorrogação tivemos um jogo de ataque contra defesa. Depois de três milagres de Cech, Martínez empatou no minuto final.

 

Primeiro tempo da prorrogação: Chelsea no 4-4-1 e o Bayern no 4-3-3. Mourinho alocou Torres e depois Lukaku às costas dos meias, o que atraiu os zagueiros e proporcionou espaços pelos flancos, de onde nasceu o segundo gol do Chelsea.

 

 

Na etapa final da prorrogação, tivemos um ataque contra defesa marcado por três milagres incríveis de Cech. No último minuto e no bate rebate, Martínez conseguiu o gol de empate que levou a disputa para as penalidades.

 

 

Nos pênaltis, o Bayern foi mais competente e acabou conquistando o título inédito após o jovem Lukaku errar a última cobrança. Em campo, tivemos uma verdadeira aula dos preceitos mais atuais do futebol, como a intensidade na transição ofensiva e a busca, quase desesperada, pelos espaços na transição defensiva. O duelo entre Mourinho e Guardiola deu ares de uma grande final para a Supercopa desse ano, o que acabou trazendo grande emoção para o duelo. O empate, com bola rolando, foi justo, independentemente da grande diferença entre as posturas. Abraço!

 

 

https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2013/08/rivalidade-acesa-mourinho-critica-trabalho-de-guardiola-no-bayern.html

 

https://impedimento.org/analisestaticas/mourinho-ensinando-as-barbadas-do-4-2-3-1-eficiente/

 

https://paineltatico.webnode.com/news/a-volta-do-4-2-4-na-estrutura-tatica-do-futebol-moderno/

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

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