BRASIL GOLEIA JOGANDO SEM CENTROAVANTE

16/10/2012 12:31

 

A goleada do time de Mano Menezes é uma clara demonstração que a equipe começa a encorpar, tomar forma, demonstrar um resquício de padrão tático. Como demonstrado aqui no Painel na prévia tática do duelo, o Brasil veio no seu 4-2-3-1 sem centroavante (o que tenho chamado do 4-6-0 brasileiro) e o Japão marcando em linhas de quatro, sendo que no primeiro tempo fez a transição ofensiva com dois atacantes e na segunda etapa atacou remontando seu 4-2-3-1:

 

Brasil no 4-6-0 e Japão tentando marcar em linhas: movimentação brasileira encontrou espaço na descompactação das linhas japonesas.

 

 

A Seleção Japonesa começou marcando no campo de ataque e dificultando a saída de bola do Brasil. A equipe de Zaccheroni tentava encurtar os espaços, mostrando o dedo italiano do treinador na equipe asiática. Aos 8 minutos o Japão quase fez o primeiro gol, com Diego Alves fazendo bela defesa. Porém, aos 12 minutos, e jogando pior, a Seleção Brasileira fez o primeiro gol em belo chute de fora da área de Paulinho, após bela ajeitada de Oscar.

Depois do gol brasileiro, a tônica do jogo mudou. Aos 16 minutos Paulinho perdeu gol na cara de Kawashima, após belo recuo e passe de Neymar, tentando executar com eficiência a função de falso nove. O Japão, postado num 4-4-2 britânico, fazia Honda e Nakamura alternarem na posição de meia central, o que pouco aconteceu. Não ter ocupado esse espaço foi letal para os japoneses, porque propiciou aos volantes brasileiros ocupá-lo, tomando conta do meio de campo.

Até os 23 da primeira etapa, o Japão valorizava a posse de bola e o Brasil tentava sair em velocidade, lembrando a equipe de Dunga e Jorginho. Entretanto, um pênalti mal marcado pelo juiz jogou água fria na voluntariedade japonesa, já enfraquecida pelo gol de Paulinho. Kaká, caindo pela direita, tabelou com Adriano e o juiz marcou toque de mão do japonês quando o meia do Real Madrid tentava driblar. Neymar bateu forte e fez o segundo: 2 x 0 Brasil.

Foi interessante ver que, nos contragolpes, a Seleção montava uma linha de quatro no ataque, com Neymar pela esquerda, Kaká e Oscar pelo centro e Hulk pela direita. Tanto que aos 33 minutos, Kaká, pela direita, recebeu de Neymar, pela esquerda, e bateu de chapa com categoria. Infelizmente a bola explodiu na parte baixa do poste esquerdo de Kawashima. O Brasil jogou bem no contragolpe, trabalhou bem a bola, fez uma transição rápida entre a defesa e o ataque e surpreendeu os japoneses com uma movimentação muito maior do que a apresentada pela França em Paris.

Quero ressaltar dois aspectos que foram importantíssimos na goleada brasileira, tanto no primeiro quanto no segundo tempo: a participação de volantes criativos no ataque e a alternância de posição entre Kaká e Neymar pela esquerda. Se o propósito do falso nove foi dar essa mobilidade para Kaká, e se essa movimentação se repetir nos próximos jogos, começo a confiar nessa nova conjectura tática de Mano Menezes. O time do Brasil mostrou certa “modernidade” no aspecto estratégico, adequando seu 4-2-3-1 aos preceitos modernos que são aplicados na Europa, como o falso nove espanhol e os volantes criativos da Alemanha. Faltam jogos difíceis e treinamento, mas a idéia inicial é interessante.

 

Movimentação ofensiva do Brasil que pode justificar a ausência do centroavante: Kaká compõe o lado esquerdo do tablado, entretanto centraliza com freqüência na transição ofensiva, com Neymar, e até mesmo Ramires, procurando o flanco. Com isso, Oscar e Hulk encontram espaços na entrada da área adversária.

 

 

No segundo tempo, Zaccheroni colocou Inui no lugar de Nakamura, recuando Honda para a meia central e remontando o 4-2-3-1 japonês que havia batido os franceses. Mas, novamente o Brasil surpreendeu e, num lance de sorte, Neymar fez o terceiro gol aos 3 minutos de jogo. Após o tento o Japão tentou trabalhar a bola com velocidade e quase marcou em bela jogada de Kagawa pela direita. Entretanto, o dinamismo ofensivo do Brasil era letal, sendo que os japoneses contribuíram muito alargando a marcação e deixando o time brasileiro jogar.

Aos 22 minutos, Neymar, se movimentando muito, fez excelente jogada pela direita. Ramires, muito participativo, entrou em disparada pela área e empurrou para as redes. O gol, que seria o mais bonito do duelo, foi mal anulado pela arbitragem, que compensou o pênalti mal marcado no primeiro tempo. Porém, aos 31 da etapa final não teve como anular. Kaká pela esquerda, em arrancada típica, fez um gol muito parecido com o que marcou contra o Iraque. Ele ameaça centralizar, ganha na explosão e chuta cruzado de esquerda. Outra jogada proporcionada pelo seu posicionamento, pelo deslocamento de Neymar e pela participação dos volantes. O passe do gol foi de Paulinho.

É impressionante como Kaká mudou a cara do time brasileiro. A presença do atleta deu mobilidade, “soltou” o meio de campo da equipe, antes “engessado” na espera da bola. Além de ser visível o bem que fez psicologicamente para os jovens, principalmente Neymar, que carregava nas costas a obrigação de liderar o ataque e decidir. Mesmo sendo contra o Japão, outra equipe fraca, hoje a movimentação do Brasil chamou atenção de uma forma positiva, algo que não acontecia desde a estréia de Mano contra os Estados Unidos.

Tenho o orgulho de sempre ter defendido aqui no Painel e no grupo Discussão Tática o uso de dois volantes técnicos na Seleção Brasileira. Sempre acreditei que as duas vagas tinham que ser disputadas por Paulinho, Arouca, Hernanes e Ramires. Vi muito especialista em tática dizendo que Ramires não é volante. Porque não? Sandro, Lucas Leiva e Luiz Gustavo devem brigar por uma vaga no elenco e não no time titular. Atualmente, o 4-2-3-1 necessita da participação ofensiva dos volantes para ter uma dinâmica efetiva do setor inteiro de ataque.

Parece que Mano achou o caminho com a volta de Kaká, totalmente sóbrio e aparentemente recuperado. Também parece ter se decidido pela implementação do falso nove, abdicando de jogar com uma referência. Paulinho, Ramires e Diego Alves parecem ter conquistado suas respectivas posições, o que enfim vai colocando o Brasil nos trilhos do padrão tático. Suspeitei desse 4-6-0 e defendi o uso de um 4-2-3-1 mais equilibrado, com Kaká centralizado e Fred no ataque. Entretanto, se o time jogar dessa forma contra grandes Seleções, passarei a confiar, como Mano Menezes, nesse novo e moderno Brasil. Abraço!

 

 

 

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

 

Tópico: BRASIL GOLEIA JOGANDO SEM CENTROAVANTE

o motivo de jogra sem centroavante

Fernando Martins | 18/10/2012

Parabéns, novamente pelo post Victor!
A seleção brasileira vem jogando sem o centroavante de ofício, ultimamente. Isto deve-se a escolha, sem sucesso, de alguns jogadores que não tem por característica a armação de jogadas. Leandro Damião, Sandro, Romulo e Hulk são jogadores que fazem o ''feijão com arroz'', para o nivel da seleção; já Paulinho, Ramires e Kaká tem mais técnica, e uma equipe que só dependia de Neymar e Oscar era muito mais facil se se marcar, até mesmo para seleções sub-20.
Concorda, Victor?

Re:o motivo de jogra sem centroavante

Victor Lamha de Oliveira | 19/10/2012

Grande Fernando! Obrigado pelo elogio! A casa é sua! Olha, Mano tem tentado achar um caminho que junte a renovação necessária, o ponto de referência perdido, a modernidade tática e o resgate do volume de jogo ofensivo, que sempre propiciou ao Brasil protagonizar no futebol mundial. Na verdade, Mano só testou como centroavante Damião e Pato, afinal Fred teve poucas oportunidades. Creio que a instauração do 4-6-0 também tem como escopo, como bem lembrado por você, diminuir a facilidade em marcar o Brasil. Com Paulinho e Ramires vindo de trás, e Kaká puxando a marcação, o Brasil ganhou em talento e movimentação, o que deve dificultar mais nossos adversários. Entretanto, eu ainda continuo defendendo o uso do centroavante. Torço para que o 4-6-0 se mostre competitivo e vencedor em nossa Seleção, mas isso somente o tempo vai nos mostrar. Com certeza melhorou o nível técnico do Brasil com a volta de Kaká e Ramires, além da chegada de Paulinho. Vamos torcer! Abraço!

Kaká e os 50 metros

Raniery Medeiros | 17/10/2012

Victor,
mais um belo texto, amigo.

Grande explicação. Principalmente para mim. Que não pude assistir ao jogo.

Nos melhores momentos eu pude perceber a excelente condição física do Kaká. Neymar buscando o jogo e rodando em todos os lados.

É legal ver o Adriano dando opção para o lado direito já que o esquerdo está sendo bastante procurado.

Há quem diga que batemos em adversário morto. Não acho.

O jogo de hoje mostrou o Kaká calando a boca de muitos que torcem o nariz quando se analisa a sua condição física. Ele correu 50 metros, trocando de perna e ainda finalizou com força.

Não me agrada o Hulk como titular. Mas om o Lucas o time ficaria leve pra caramba.

Abraço, amigo.

Re:Kaká e os 50 metros

Victor Lamha de Oliveira | 19/10/2012

Grande Raniery! Obrigado pelo elogio amigo! A condição física de Kaká foi algo que chamou a atenção e encheu o coração de esperança. Da forma como encaixou na equipe, mesmo jogando apenas dois jogos, podemos dizer que já se tornou necessário e fundamental. E você lembrou muito bem: Kaká correu 50 metros e ainda finalizou de canhota, além de fazer bem a transição defensiva do esquema de Mano. Neymar buscou o jogo, caiu bem menos e foi mais objeitvo, mais craque do que artista. Adriano foi uma ótima opção, surpreendendo na função de lateral direito. Como disse para o Maurício logo abaixo, também não gosto de Hulk com a camisa de titular. Mano não coloca Lucas porque o 4-6-0 tem dinâmica de 4-2-2-2, com Kaká mais meia que atacante e Hulk mais atacante do que meia. Entretanto, seja em qualquer função do campo, eu prefiro Lucas do que Hulk. Futebol brasileiro é talento, velocidade e improvisação. Trombada não combina com nossa categoria! Abraço!

gostando de ver!

Maurício | 16/10/2012

To gostando da seleção Victor, mas to gostando mais mesmo da nossa dupla de volantes!

Mas acho que deveria tirar o Hulk e por o Luis Fabiano ou Fred! Até que com o falso 9 Neymar ta dando certo, mas em certos jogos precisa de um homem de referência, concorda? Mas mesmo assim tiraria o Hulk, quem sabe o Robinho não volta a sua boa fase né!

Abraço!

Re:gostando de ver!

Victor Lamha de Oliveira | 19/10/2012

Grande Maurício! Com certeza a dupla de volantes foi um grande destaque dessa exibição brasileira. Já faz tempo que o Brasil clama por uma dupla de volantes mais técnica, com mais cara de futebol brasileiro. Essa também é uma exigência atual para os usuários do 4-2-3-1/4-6-0: volantes que sabem jogar. Independente do esquema, eu também tiraria o Hulk, colocando Lucas (no caso de manutenção do 4-6-0) ou Fred (no caso de jogar com centroavante). Mano já disse que vai usar a referência no ataque somente nos casos em que necessitar. O esquema base para a Copa das Confederações, de acordo as declarações atuais do nosso treinador, será o 4-6-0 com Neymar de falso nove. Abraço!

Re:Re:gostando de ver!

Maurício | 19/10/2012

Essa 4-6-0,fica +/- assim neh, do meio pra frente:

____________________Paulinho______Ramires___________________

___Hulk____________Oscar___________Neymar___________Kaka____


O Barça que as vezes faz assim neh:

___________________Xavi__________Busquets____________________

________Pedro_______Messi________Cesc________________Iniesa__

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