BREVE RESENHA TÁTICA DOS CARIOCAS NA LIBERTADORES

Na quarta-feira, Vasco e Corinthians duelaram pela primeira partida das quartas de final da Libertadores, em São Januário. Num jogo caracterizado por dois fortes esquemas de marcação, me chamou atenção a postura tática do time do Corinthians. Aparentemente não tivemos nenhuma mudança abrupta em termos táticos. Cristovão veio no seu 4-3-3/4-2-3-1, que nessa partida foi mais 4-2-3-1 do que 4-3-3, pelo apelo defensivo demonstrado pelas duas equipes. O timão também veio de 4-2-3-1, mas com uma variação interessante para o 4-4-2 em duas linhas de quatro. Jorge Henrique virou praticamente um segundo lateral pela direita, bem aberto e acompanhando Feltri. Como pelo lado esquerdo, Emerson não tinha a mesma efetividade na marcação, foi por ali que o Vasco tentou surpreender, com Fágner e Éder Luís. Juninho foi bem cercado e não conseguiu distribuir o jogo vascaíno. O resultado pode parecer melhor para o Corinthians, mas creio que a disputa está totalmente aberta. Esse foi o desenho tático da partida: Vasco no seu 4-3-3/4-2-3-1 e o Corinthians no seu híbrido 4-2-3-1 sem centroavante que se transformava em verdadeiro 4-4-2 em duas linhas de quatro quando o time perdia o domínio da bola.

Já o Fluminense ficou em situação bem pior do que a do Vasco. Perdeu de 1 a 0 para o Boca Juniors na Bombonera, resultado que ficou magro graças a atuação magistral de Diego Cavalieri. Logicamente que a expulsão de Carlinhos, ainda no primeiro tempo, dificulta qualquer análise tática sobre o duelo. Diante da expulsão, dos desfalques de Deco, Nem e Fred, e da pressão do adversário, os jogadores se mostraram guerreiros e conseguiram um resultado possível de reverter no Engenhão. Mas isso não exime Abel Braga de seus erros. O primeiro, e mais latente, foi escalar Wagner e deixar Lanzini no banco. O ex-jogador do Cruzeiro não apresentou nada desde que chegou ao Flu. O ideal seria ter colocado Lanzini pela direita e centralizado Neves, evitando o isolamento de Rafael Moura no ataque. O He-Man não tem a mesma técnica de Fred para jogar isolado, não conseguindo reter a bola no ataque. O segundo erro de Abelão foi manter Wagner e retirar Sóbis após a expulsão de Carlinhos. Deixar um jogador inoperante e retirar um guerreiro em campo foi algo inexplicável. O Boca é favorito, mas ainda acredito numa reação tricolor. Esse foi o desenho tático da partida, o mesmo dos dois duelos anteriores: 4-2-3-1 tricolor x 4-3-1-2 xeneize.

Para quem gosta de futebol, tática, e de uma boa leitura, vale a pena ler esse belíssimo texto de Luís Fernando Veríssimo:

Gols de cocoruto

“O melhor momento do futebol para um tático é o minuto de silêncio. É quando os times ficam perfilados, cada jogador com as mãos nas costas e mais ou menos no lugar que lhes foi designado no esquema – e parados. Então o tático pode olhar o campo como se fosse um quadro-negro e pensar no futebol como alguma coisa lógica e diagramável. Mas aí começa o jogo e tudo desanda. Os jogadores se movimentam e o futebol passa a ser regido pelo imponderável, esse inimigo mortal de qualquer estrategista. O futebol brasileiro já teve grandes estrategistas cruelmente traídos pela dinâmica do jogo. O Tim, por exemplo. Tático exemplar, planejava todo o jogo numa mesa de botão. Da entrada em campo até à troca de camisetas, incluindo o minuto de silêncio. Foi um técnico de sucesso mas nunca conseguiu uma reputação no campo à altura da sua reputação de vestiário. Falava um jogo e o time jogava outro. O problema do Tim, diziam todos, era que seus botões eram mais inteligentes do que seus jogadores.”

(Luís Fernando Veríssimo, O Estado de S. Paulo)

.

Gostaram? Painel Tático também é cultura! Abraço! Aguardo os comentários!

Victor Lamha de Oliveira