ESPANHA 4 x O ITÁLIA: FÚRIA IMPIEDOSA ATROPELA AZURRA COM GOLEADA E AULA TÁTICA

01/07/2012 20:07

 

Confesso que não estava tão confiante na Espanha, muito menos podia imaginar essa goleada, aplicada com simplicidade e domínio absoluto. Minha aposta era uma vitória italiana, apertada e sofrida, por apenas um gol de vantagem e na prorrogação. No plano tático, não tivemos nenhuma novidade. A Espanha veio postada no seu 4-2-3-1 com Fábregas de falso 9. Já Prandelli trouxe a Itália escalada no seu 4-3-1-2 “achado” durante a competição. Esse foi o desenho tático do duelo final da Eurocopa:

 

 

O jogo começou com Busquets marcando Montolivo e De Rossi recuando para liberar Pirlo na criação. Marchisio estava um pouco mais adiantado, parecendo ter sido escolhido por Prandelli para auxiliar Montolivo, assim como De Rossi foi escolhido para ajudar Pirlo. Essa era a dinâmica dos quatro componentes do meio campo do time italiano. Porém, a Itália nem teve tempo de colocar sua estratégia em prática.

A Espanha começou a partida de forma imponente e arrasadora, assustando o time de Prandelli. Com muita técnica e movimentação, a Fúria começou seu jogo de tocar a bola e rodar as posições, bailando como um verdadeiro carrossel na intermediária italiana. Iniesta, Silva e Fábregas alternavam constantemente de posição, embaralhando a defesa da Azurra, com Xavi coordenando os ataques letais como um verdadeiro maestro.

Aos treze minutos do primeiro tempo, o gol marcado pela Espanha foi um retrato fiel da movimentação da equipe. Com a Itália na roda, Iniesta saiu da esquerda para armar o jogo no centro de campo. O craque do Barcelona enfiou ótima bola para Cesc Fábregas, o falso 9, que no momento, figurava como ponta direita no ataque espanhol. Por fim, quem finalizou foi o pequenino David Silva, que de cabeça, e realizando a função de centroavante, marcou o primeiro gol da goleada espanhola.

Achei muito inteligente a sacada tática do Del Bosque. Sabedor da qualidade de Pirlo, armador e maestro italiano, colocou Iniesta para jogar criando em seu setor de meio campo, prendendo o jogador na marcação e ceifando a qualidade da saída de bola do time da Itália. Com Iniesta e Xavi inspirados, querendo bola e armando as jogadas, a Espanha iniciava a primeira etapa de forma arrasadora.

 O time espanhol entrou jogando um futebol bem dinâmico, lembrando a equipe campeã da Euro2008 e da Copa de 2010. Ao invés daquele domínio enfadonho, o time apresentava um domínio plástico e eivado de toques curtos e rápidos. Apresentou um belíssimo futebol o time de Del Bosque. A movimentação e o toque espanhol, além de enlouquecer o sistema defensivo da Itália, empurrava o time de Prandelli para a defesa, o que aumentava as proporções do domínio.

Entretanto, a partir dos vinte minutos de jogo o cenário da partida se modificou, com a Itália equilibrando as ações de jogo e recuperando a posse da bola. A equipe de Del Bosque parecia recuar a marcação propositalmente, entregando para a Itália um falso domínio, com o objetivo de ser letal no contragolpe. A equipe de Pirlo melhorou no jogo, com Cassano quase marcando um gol aos trinta e dois minutos, em belo chute de fora da área defendido por Casillas.

O problema do meio de campo italiano era o posicionamento de seus jogadores. Pirlo e De Rossi estavam muito recuados, assim como Montolivo e Marchisio estavam muito abertos e totalmente inoperantes na criação de jogadas. A equipe da Itália cometeu o erro fatal de dar o meio central para Xavi e Iniesta pensar o jogo.

Aos quarenta minutos veio outro golpe espanhol. Grande arrancada do promissor Juan Alba, que partiu em velocidade do campo de defesa e tocou para Xavi. O genial meio campista espanhol dominou, parou, esperou a hora certa e enfiou a bola com sutilidade e maestria. O jovem lateral, veloz e habilidoso, saiu na cara do gol e marcou o segundo gol espanhol, preparando a goleada que se concretizaria na segunda etapa.

Os 52% de posse da bola, conquistado pelos italianos, de nada adiantou. O que se viu foi um passeio técnico e tático dos espanhóis, liderados pela inspiração de Xavi e Iniesta. Os dois craques assumiram a responsabilidade e jogaram muito bem, durante toda a partida. Foi com essa vantagem, e com uma bela exibição, que a equipe de Del Bosque deixou o campo e se dirigiu aos vestiários.

Na volta do intervalo, Prandelli, ao invés de colocar um homem de frente e tirar um volante, preferiu sacar Cassano e colocar Di Natale, trocando seis por meia dúzia. Não concordei com a substituição, sendo este mais um equívoco do treinador na partida. Ao reiniciar o jogo, também recomeçou o domínio espanhol, na mesma intensidade apresentada no início do primeiro tempo.

A Fúria voltou rodando a bola e mandando no jogo, retendo em suas mãos a posse da pelota, o que obliterava qualquer reação dos italianos. E, aos dez minutos, veio o equívoco fatal de Prandelli. Com o escopo de liberar Pirlo, e aumentar o volume de jogo ofensivo de sua equipe, o treinador novamente substituiu mal, tirando Montolivo e colocando Thiago Motta. Mas, apenas três minutos depois, o meia se machucou, deixando a Itália com apenas dez homens. Além das substituições de Cassano e Montolivo, Prandelli tinha queimando uma alteração com a contusão de Chiellini no início da primeira etapa. O que estava muito difícil com onze em campo, começava a se tornar impossível com apenas dez homens.

Em minha opinião, o treinador italiano precipitou e errou nas alterações. Acho que Del Bosque lhe deu verdadeiro nó tático, ceifando o jogo italiano e propiciando espaço para seu time jogar. A Espanha vencia por 2 a 0 e era dona absoluta do jogo, preparando o terreno para a goleada histórica que estava por vir.

Sabiamente, Bosque tirou Fábregas e Silva, visivelmente cansados, e colocou velocidade com Fernando Torres e Pedro. Com essas alterações, o treinador espanhol preparava o contragolpe que encerraria de vez qualquer esperança italiana. Mesmo ganhando por dois gols, dominando a partida, e com um jogador a mais, a Espanha não diminuía o ritmo, buscando, com todo respeito ao adversário, a feitura de mais gols, assim como o Barça de Guardiola.

Aos trinta e oito minutos, o genial e incansável Xavi apertou a saída e tomou a bola, dando belo passe para Torres, que havia entrado justamente para matar o jogo. Com os 3 a 0, o terceiro título europeu da Espanha já era realidade, porém ainda tinha espaço para mais um tento. Aos quarenta e três, após passe de Torres, Juan Mata, que havia acabado de entrar, fez o quarto gol e sacramentou a goleada histórica.

E foi desta forma que a Espanha entrou de vez para o rol das grandes seleções campeãs da história do futebol, desfilando pelos campos do mundo uma das gerações mais habilidosas de todos os tempos. O futebol espanhol é tri campeão europeu, sendo a primeira equipe do velho continente que consegue ganhar o torneio duas vezes consecutivas. Além disso, a Espanha é a atual campeã mundial, tendo, em seu campeonato nacional, as duas melhores equipes do planeta, que são Real Madrid e Barcelona.

O feito do time espanhol é histórico. São três grandes títulos consecutivos, de forma plena e absoluta. A Espanha deu espetáculo, um verdadeiro chocolate para cima da Itália, fazendo quatro belos gols em cima da tetra campeã mundial. O futebol vive a Era Espanhola que, hoje, se impôs como a melhor Seleção da atualidade, posto que ocupa há quatro anos. Abraço!

 

 

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira