GRANDES ESTRATEGISTAS: PARREIRA GANHOU O TETRA MARCANDO EM LINHAS

05/01/2013 15:10

 

Quando o assunto é Seleção Brasileira, um dos pontos mais debatidos é a utilização dos volantes, ainda mais atualmente, com Mano Menezes, no final de seu trabalho, escalando Ramires e Paulinho na cabeça da área, atletas que na verdade jogam como segundo volante. Alguns acham que contra seleções de ponta, deve o Brasil jogar com um volante de contenção, o que protegeria mais a zaga. Para outros, futebol brasileiro é sinônimo de qualidade técnica, sendo imprescindível o uso de dois volantes com saída de bola qualificada.

Como defensor da escalação de cabeças de área que saibam jogar, independentemente de adversário ou esquema, fui pesquisar sobre uma Seleção Brasileira que foi campeã usando, explicitamente, um primeiro volante apenas de contenção e que não auxiliava em nada nas ações ofensivas. Creio que para abordar esse assunto, se tratando de Seleções Brasileiras vencedoras, nada é mais paradigmático do que o tetracampeonato em 1994, na Copa dos Estados Unidos.

Tal torneio foi marcante, inesquecível no meu aprendizado futebolístico. Na época tinha onze anos, estava enlouquecido com a Copa, a primeira que acompanhei entendendo um pouco mais de futebol. Gravei quase todos os jogos do mundial em VHS, fitas que tinha até pouco tempo. Lembro até hoje dos jogos contra EUA, Holanda, Suécia e Itália. Foi minha primeira grande glória como torcedor, sendo que tal conquista me emociona até hoje. Como na época não possuía qualquer conhecimento tático acreditava, como a maioria, que o Brasil venceu se valendo de um esquema tradicionalmente brasileiro: o 4-2-2-2. Ledo engano.

Antes de procurar pela internet, vídeos com jogos do Brasil na supracitada Copa do Mundo, fiz uma pesquisa sobre textos, procurando nestes até uma indicação sobre jogos completos do time de Parreira que foi tetracampeão mundial. Foi quando me deparei com um texto esclarecedor de André Cecconi no extinto blog Preleção, o que mudou completamente meu entendimento sobre o time de 94 e embasou, ainda mais, o que queria exemplificar: é possível jogar com volante de contenção, bastando, para isso, uma esquematização inteligente e qualificada da saída de bola, dando velocidade na transição da defesa para o ataque e valorizando a posse da pelota.

Levando em conta a pressão de não disputar uma final de mundial desde 1970, e que a equipe sofreu alterações importantes pouco antes da disputa do torneio (a contusão dos zagueiros titulares, o corte de Ricardo Gomes e a chegada de Romário, que passou a integrar a equipe no último jogo das Eliminatórias), fica evidente que a estratégia básica e eficiente de Parreira merece ser tratada com o status devido, algo que combine mais com a conquista do imponente título. Por isso, após ler o texto de Cecconi e assistir novamente o Brasil jogando em 94, achei mais que justo fazer o segundo texto da série grandes estrategistas, desta vez homenageando Carlos Alberto Parreira.

Conforme citado, assim como a maioria, acreditava que o Brasil tinha ganhado aquela Copa atuando num ortodoxo 4-2-2-2, um típico quadrado à brasileira. Guardava na minha lembrança, com nitidez, Mauro Silva e Dunga na cabeça de área, Mazinho e Zinho nas meias e Bebeto e Romário na dupla de ataque. Porém, pesquisando e assistindo novamente, quase vinte anos depois, percebi que aquele esquema escondia nuances táticas muito mais complexas do que o simples uso de um quadrado. Abaixo, primeiramente, Brasil postado sem a bola: como bem colocado por Cecconi, um típico “4-4-2 britânico”.

 

Brasil de Parreira sem a posse de bola: Seleção jogava postada num 4-4-2 em linhas, com Dunga e Mauro Silva centralizados. Mazinho e Zinho abriam pelos lados, auxiliando os laterais e fazendo um interessante revezamento nas centralizações. Mazinho voltava bastante para buscar o jogo, auxiliando o capitão Dunga, coração da equipe. Na frente, Romário por vezes recuava, como Rooney costuma executar no Manchester, para puxar o contragolpe ou tirar o zagueiro da área. Com essa movimentação, o “baixinho” aproveitava os lançamentos de Dunga e abria espaço para seus companheiros. No painel acima, uma tentativa de mostrar a transição ofensiva que resultou num dos gols da goleada em cima de Camarões, quando o Brasil ganhou por 3 x 0 na primeira fase do torneio. Ao recuperar a bola, Dunga avançava como um meia central e Mauro Silva recuava para proteger a zaga. Era costumeiro, quando o Brasil retomava a posse de bola, um dos laterais subir, um meia centralizar, Bebeto abrir pelos flancos e Romário “trazer” a defesa para fora da área. O gol em cima de Camarões, após belo lançamento de Dunga, elucida bem essa dinâmica. Vou disponibilizar nas referências o link do You Tube com os gols da partida. Vale a pena, para quem não viu, conferir.

 

 

No jogo contra a Holanda, principalmente no primeiro tempo, Dunga avançou bastante para montar as ações ofensivas do time brasileiro. Era o organizador de Parreira, a referência tática do time. A braçadeira de capitão, tão questionada, foi mais do que justa. Dunga foi capitão, líder e o organizador da meiuca brasileira, marcando com raça, falando muito em campo e sendo preciso nos passes. Apesar de ser uma equipe que valorizava a posse de bola, muitas vezes realizando um jogo enfadonho, o que fez Zinho, jogador que tinha a função de reter o balão no campo ofensivo, ganhar o apelido de “enceradeira”, as transições ofensivas do time de Parreira costumavam ser velozes e letais, como no gol contra os Estados Unidos, partida em que o Brasil venceu por 1 x 0, gol de Bebeto.

Abaixo o texto de Eduardo Cecconi que me inspirou a ver novamente o Brasil de 94 jogar futebol, dessa vez de uma forma menos passional e mais analítica. O citado jornalista escreveu o texto para o extinto blog Tabuleiro no dia 13/09/2011(link disponibilizado abaixo), após participar de uma aula do técnico Dunga ministrada num curso sobre tática. A explicação de Cecconi, baseada na aula do capitão daquela equipe, esmiúça com objetividade a dinâmica das transições do time de Parreira:

 

- Segundo Dunga, a Seleção Brasileira formava duas linhas sem a bola. Um 4-4-2 britânico. Não guardava na memória tal referência tática. E fui pesquisar vídeos. O posicionamento era este mesmo, conforme descrito no diagrama tático que ilustra o post. Há 17 anos o Brasil conquistou a Copa do Mundo utilizando-se de um modelo pouco usual no país.

Dunga explicou, utilizando o tabuleiro do curso, que a segunda linha formava-se com Mazinho aberto na direita, Zinho na esquerda, Mauro Silva e ele centralizados. Mazinho protegia Jorginho, Zinho guarnecia Branco, e os volantes mantinham um escudo frente aos zagueiros. Ainda sem a bola, Romário recuava até o meio-campo, centralizado, para buscar a bola e iniciar o contra-ataque, quase como um ‘enganche’ do 4-4-1-1 britânico.

Com a bola, pelo menos um dos meias – geralmente Zinho – centralizava em diagonal do lado para o meio, enquanto Romário adiantava-se para formar o ataque com Bebeto. Mauro Silva recuava como um líbero à frente dos zagueiros, liberando os laterais e dando liberdade a Dunga para adiantar-se. O desenho aparentava um 4-1-3-2.

Era de Dunga o papel da transição ofensiva. Com meias mais defensivos abertos na segunda linha, o Brasil recuava para marcar no campo de defesa – com intensa participação de Romário e Bebeto na saída adversária. Recuperada a bola, Dunga apostava nos lançamentos longos, invertendo o lado da jogada: se a roubada saía na direita, lançava Branco e/ou Zinho; se fosse na esquerda, acionava Jorginho e/ou Mazinho. O meia que não recebia a bola na ligação longa centralizava, enquanto o alvo do passe subia pelo lado junto com o lateral.

A constatação de Dunga, com riqueza de detalhes, desfaz a concepção geral de que o Brasil jogava no 4-4-2 à brasileira, com dois volantes e dois meias-articuladores imediatamente à frente, formando um quadrado. Era um sistema híbrido, que defendia em duas linhas britânicas, e atacava com um trio de armação, sendo Dunga o organizador central.

 

Como bem percebido por Cecconi, o Brasil jogou num sistema híbrido, que defendia em linhas e atacava com três meias, sendo dois laterais e um centralizado, algo parecido com o que vemos hoje nas transições ofensivas do 4-2-3-1. Outra parte importante do texto é quando o jornalista ressalta a importância do papel de Dunga, responsável pela transição ofensiva do time. Foi por esse motivo, que o “time de volantes”, montando por Parreira, não sentiu tanta falta de um meia genuinamente de criação. Foi justamente por encontrar essa dinâmica equilibrada de atuação, que Parreira sacou Raí e escalou Mazinho. Além da má fase do craque do São Paulo.

 

Transição ofensiva da Seleção tetracampeã: Mauro Silva recuava quase como um terceiro zagueiro e Dunga avançava para pensar o jogo brasileiro, sendo auxiliado por um dos meias e, quase sempre, por um lateral. Cecconi colocou que o Brasil, nessas transições ofensivas, montava no tabuleiro uma espécie de 4-1-3-2, com Mauro jogando eminentemente na proteção da zaga. Não estou afirmando que o Brasil jogou com três zagueiros, entretanto enxerguei a Seleção, na transição ofensiva, muito mais próximo do 3-5-2 do que de qualquer outro esquema. A qualidade dos laterais e a consistência dos meias encaixaram-se perfeitamente ao talento da inesquecível dupla de ataque. Méritos de Parreira e também de Zagallo, idealizadores da equipe.

 

 

Aproveitando o gancho da citação acima, com certeza Parreira se valeu bastante do conhecimento absurdo que Zagallo tem do futebol, assim como sua Inteligência tática apresentada desde os tempos de jogador, quando apresentou ao mundo o 4-3-3 com sua movimentação inspiradora. Com certeza Mário Jorge Lobo Zagallo, assim como Telê Santana e Rinus Michels, terá seu post aqui no Painel Tático, engrandecendo ainda mais a série Grandes Estrategistas. Mas, não tem como falar da Copa de 94 sem mencionar a importância do “velho lobo” naquela campanha vitoriosa.

Cabe lembrar que o 4-2-4, nascido em terras brasileiras, conquistou o mundo em 58, ganhando destaque no mundo do futebol. Entretanto, em função da movimentação de Zagallo, que voltava intensamente na marcação e compunha o ataque na ponta esquerda, nascia o terceiro homem de meio campo e, conseqüentemente, o 4-3-3. Pelo avançado grau de aplicação tática, o jogador foi apelidado de “formiguinha”, sendo que em 62, no bicampeonato, a equipe brasileira já veio postada num 4-3-3 que variava para o 4-2-4, invertendo a tônica da Copa de 58.

Zagallo foi o primeiro atleta a ganhar fama de polivalente no futebol mundial, afinal desempenhava mais de uma função, o que permitia ao Brasil alterar seu sistema tático durante os jogos. A contribuição da “formiguinha” para o futebol foi imensurável, tanto que seu exemplo se espalhou pelo futebol mundial, incentivando no planeta bola a criação de variações táticas. Fiz um post sobre a Copa de 62 que explica bem essa transição defensiva de Zagallo no 4-2-4, o que originou o 4-3-3. Além de ser bastante didático, o texto foi elogiado por André Rocha e obteve grande acesso dos leitores. Para quem se interessar mais sobre o assunto, deixarei o link disponibilizado nas referências.

Com certeza, essa inteligência tática de Mário Jorge Lobo Zagallo e sua concepção de polivalência tática dos atletas, observada dentro das equipes que atuou e dirigiu, ficaram evidentes na dinâmica tática do time de Parreira. No Brasil do tetra, quase todos os jogadores realizavam mais uma função tática e estratégica. Abaixo, alguns flagrantes táticos que retirei do melhor jogo da Copa: Brasil 3 x 2 Holanda pelas quartas de final do torneio.

 

Nesse flagrante, o Brasil tinha acabado de perder a bola. Rapidamente, Dunga recuou da armação central e Mauro Silva avançou para novamente formar a linha de marcação no meio. Zinho e Mazinho davam ênfase ao posicionamento pelos flancos justamente para propiciar as transições com mais velocidade.

 

Holanda trabalhando a bola e o Brasil adiantando a linha para encurtar os espaços. Segurança defensiva foi necessária pela pressão do momento e pela confiança na dupla de ataque, uma das melhores e mais completas da história de nosso futebol.

 

Flagrante da transição ofensiva: Mauro Silva já posicionado entre os zagueiros, Mazinho recuando para buscar o jogo e Dunga partindo para a meia central. A dinâmica ilustrada era comum no time de Parreira.

 

Flagrante dos avanços de Dunga para a meia central. A Holanda havia acabado de retomar a bola. Como o time estava muito adiantado, Zinho e Mazinho já ficaram abertos para recompor a linha e o capitão foi dar o primeiro bote, incentivando a equipe a marcar no campo do adversário. Nessas horas fazia diferença a função executada pelo “cão de guarda” Mauro Silva, que nesse momento estava plantado guarnecendo a zaga e pronto para recompor a linha de marcação existente no meio.

 

Como ensinado por André Rocha no post do Olho Tático “Brasil 1994 – O contexto que o mundo prefere esquecer” (link disponibilizado logo abaixo e leitura indicada), o time que conquistou o tetra recebeu adjetivos como “cauteloso”, “pragmático” e até “covarde”, por não vencer na base da habilidade, e sim da obediência tática eficiente. Um pouco de saudosismo, até porque as habilidosas e técnicas seleções de 58, 62 e 70 tiveram um considerável grau de obediência tática que auxiliaram no afloramento das habilidades individuais.

O interessante do supracitado texto de André, é que na oportunidade ele retrata os problemas táticos e referentes à escalação que Parreira e Zagallo passaram, tratando da formação da equipe desde a derrota para a Bolívia em La Paz, a primeira do Brasil na história das Eliminatórias, até a final contra a Itália. Analisando todo o contexto, como proposto pelo Olho Tático, percebemos que a padronização que ficou visível no mundial, foi uma conquista árdua e recheada de obstáculos. A falta de brilho em 94, não foi culpa de uma opção defensiva de Parreira, sendo mais uma necessidade, tanto por causa dos desfalques quanto pela falta de habilidade no meio de campo. Assim entende Rocha:

 

- “(...) Entretanto, uma análise que considera todo o contexto e não se restringe ao que aconteceu nas sete partidas daquela equipe na Copa dos Estados Unidos mostra que as circunstâncias da competição e, principalmente, a ausência de peças fundamentais no time idealizado pelos comandantes transformaram um escrete que buscava o equilíbrio tático dentro da escola brasileira de toque de bola e futebol ofensivo numa equipe mais engessada e que precisou de fibra e de seus talentos para faturar o troféu (...)”.

 

Romário voltou do afastamento polêmico e despropositado, causado por questões disciplinares, somente no último jogo das Eliminatórias contra o Uruguai. Na oportunidade, o baixinho deu verdadeiro show para o Maracanã lotado, marcando os dois gols da vitória por 2 a 0 contra a Celeste. Com uma equipe desacreditada, mas com padrão tático definido, Romário soube aproveitar e se encaixou perfeitamente no time, dando um show, além dos gols, para mais de 100.000 felizardos que estiveram no Maraca. Sua chegada suplantou a necessidade de letalidade e presença de área.

A conquista que veio sem brilhos e cheia de vitórias apertadas, com certeza se deu por causa do achado tático de Parreira, que foi compactar a defesa em linhas e montar uma transição ofensiva definida e veloz. Os que viram o Brasil ganhar o mundo dando espetáculo, torceram o nariz para a obediência tática efetiva de Parreira. Para mim, que comemorava o primeiro título mundial de futebol do meu país, essa equipe jamais vai sair da lembrança, mesmo sem o brilho extasiante de outrora.

O time que venceu o Uruguai foi escalado com os seguintes jogadores: Taffarel; Jorginho, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes e Branco; Mauro Silva, Dunga, Zinho e Raí; Bebeto e Romário. Oito meses depois, chegando a copa norte americana, essa era a equipe base e a referência de Carlos Alberto Parreira. Entretanto, os problemas começaram e foram desencadeando modificações em outros setores da equipe. A primeira baixa foi Branco, jogador que chegou aos Estados Unidos mal fisicamente. Leonardo, na época meia esquerda do São Paulo, voltou para a lateral, jogando com Zinho pelo lado esquerdo, como nos tempos do Flamengo de 87.

Pouco antes do início da Copa a base de Parreira começou a ser minada pelas contusões. Precisamente lembrado por Rocha, Ricardo Gomes foi cortado por causa de um estiramento, com Márcio Santos entrando na equipe titular. Para completar, logo no primeiro jogo da competição contra a Rússia, vencida pelo Brasil por 2 a 0, Ricardo Rocha se machucou e foi substituído por Aldair. Assim, o Brasil tinha perdido um lateral e sua dupla de zaga titular. Já eram quatro jogadores diferentes da base montada durante as Eliminatórias: Romário, que só disputou a última partida contra o Uruguai, Leonardo, Márcio Santos e Aldair.

Contra a Suécia, no terceiro jogo do mundial, outra mudança, mas agora para adequar à escalação, ainda mais, aos preceitos do esquema que decidiu adotar em sua transição defensiva: o 4-4-2 britânico. Parreira privilegiou a transição defensiva na escolha dos titulares a partir desse duelo, deixando a transição ofensiva apoiada na fase esplendorosa de Bebeto e do gênio Romário. Raí, sacrificado por ter que jogar aberto, podendo encostar-se a Bebeto e Romário, não conseguiu render o esperado. Passou não valer a pena usar um meia de criação como winger se este não estava acrescentando ofensivamente ao volume de jogo. Na ausência de outro meia habilidoso, veio Mazinho, um segundo volante. Valorização total da transição defensiva.

 André Rocha ressaltou bem que a entrada de Mazinho foi uma substituição que Parreira efetuou para alcançar “uma maior consistência do meio de campo”. Por fim, a última alteração na equipe padrão foi a volta do veterano Branco após a expulsão de Leonardo contra os Estados Unidos. Sobre essa baixa, cabe a leitura de passagem do texto do mencionado jornalista:

 

- “A última mudança no time-base veio com a expulsão de Leonardo por uma cotovelada desleal em Tab Ramos e sua suspensão até o final da Copa. Longe da melhor forma física, Branco jogou no sacrifício o resto do torneio e só atacava na boa. O golaço histórico nos 3 a 2 sobre a Holanda nas quartas-de-final foi o único momento iluminado do lateral veterano que deixou Zinho isolado pela esquerda, sem maiores opções de jogada, fazendo com que o versátil meia do Palmeiras ganhasse o cruel apelido de “enceradeira”. 

 

A manutenção do esquema tático idealizado desde o início por Parreira e Zagallo, foi a muleta de uma Seleção que se transformou completamente nos três últimos jogos da competição, contra Holanda (quartas de final), Suécia (semifinal) e Itália (final). Outra definição perfeita de André foi quando colocou que após as entradas de Mazinho e Branco “a seleção ficou ainda mais pesada e precavida”. Independentemente da qualidade técnica do futebol demonstrado, a Copa colocou Carlos Alberto Parreira na galeria dos técnicos campões mundiais, privilégio que Zagallo já havia gozado três vezes, duas como jogador (58 e 62) e uma como treinador (1970).

 

 

Outros detalhes históricos e táticos da carreira de Carlos Alberto Parreira como treinador de futebol

 

 

Carlos Alberto Gomes Parreira nasceu no Rio de Janeiro (27 de fevereiro de 1943), estando com 69 anos atualmente. Formou em Educação Física pela Escola Nacional de Educação Física e Desportos, também no Rio, em 1966. Começou sua carreira como Preparador Físico do São Cristóvão de Futebol e Regatas, sendo preparador físico do Brasil na Copa de 1970, no México, quando iniciou a parceria de três Copas do Mundo com o “velho lobo”.

Suas conquistas mais marcantes foram a Copa do Mundo de 1994, o Campeonato Brasileiro de 1984 com o Fluminense e a Copa do Brasil de 2002 com o Corinthians. Três grandes times montados e idealizados pela singeleza tática do tão citado estrategista. Iniciou a carreira de treinador no ano de 1975, pelo Fluminense, clube de coração. Em 1978 foi treinar a Seleção do Kuwait, chegando a sua primeira Copa em 82, na Espanha.

Logo após, teve uma passagem apagada pela Seleção Brasileira e voltou para o Fluminense, onde foi campeão brasileiro. Montou um grande time que conquistou o segundo título nacional para o tricolor. Em 1985 foi treinar a Seleção dos Emirados Árabes Unidos, chegando a sua segunda Copa como treinador na Itália, em 1990.  Voltou ao Brasil, treinou o Bragantino em 91 e chegou à Seleção Brasileira novamente, onde se sagrou campão mundial como treinador de futebol.

Depois do tetra, agora como um campeão do mundo, Parreira treinou o Valencia da Espanha em 94/95, Fenerbahçe da Turquia em 95/96, e voltou ao futebol brasileiro, agora pelo São Paulo, ainda em 1996.  Em 97 foi treinar o Nem York MetroStars na liga americana de futebol. No final do mesmo ano, se tornou comandante da seleção da Arábia Saudita, chegando a sua quarta Copa do Mundo. No ano de 99 voltou ao Fluminense para tirar o clube da terceira divisão, sendo fundamental na reestruturação do futebol em todo o tricolor, esfacelado pela maior crise de sua história.

Depois do Flu, Parreira treinou o Atlético-MG (2000), o Santos (2000), o Internacional (2001) e o Corinthians em 2002, onde montou um timaço no 4-3-3 e voltou a brilhar como treinador. Com status de tetra campeão, voltou para a Seleção em 2002, sendo essa sua terceira passagem como técnico do Brasil. Disputou a Copa da Alemanha em 2006 e não se saiu bem, escalando jogadores experientes e acima do peso. Robinho voando e Juninho Pernambucano no auge foram mal aproveitados.

O quadrado mágico da dupla Parreira e Zagallo naufragou por excesso de peso e falta de criatividade, apesar da qualidade inegável de Kaká, Ronaldinho, Ronaldo fenômeno e Adriano. Parreira foi mal nessa Copa, tanto no aspecto tático quando organizacional, permitindo a formação de um verdadeiro circo na preparação do time brasileiro. Assim como os jogadores, Parreira foi somente um grande nome e nada fez para melhorar uma equipe visivelmente carente de volume de jogo ofensivo.

Concordo que Parreira não teve culpa de, por exemplo, Ronaldinho e Kaká sumirem no mundial, mas teve culpa quando convocou e escalou jogadores acima do peso, sem contar Cafú que foi para bater recorde (com Cicinho voando na época) e Roberto Carlos, que foi com o mesmo compromisso de quem bate uma pelada na praia. Isso sem contar aquele losango inventado contra a França nas quartas de final, abrindo mão da única coisa que sua equipe tinha: um resquício de padrão tático. Esse assunto, porém, merece ser tratado mais especificamente em outra oportunidade.

Em 2007 foi treinar a seleção anfitriã da Copa de 2010, a África do Sul. Ficou lá até final de 2008 e voltou para o Brasil alegando problemas particulares. Indicou Joel Santana para os africanos, que entraram na fria de contratar o natalino. Treinou o Fluminense novamente em 2009 e, após a demissão previsível de Joel, retomou o time africano no mesmo ano, chegando a sua sexta Copa do Mundo em 2010. Com isso, Parreira bateu recorde, superando o sérvio Bora Milutinovic, que disputou cinco: México, em 1986, à frente da seleção anfitriã, Itália, em 1990 com a Costa Rica, Estados Unidos, em 1994, também com o time da casa, França, em 1998, com a Nigéria e Coréia do Sul/Japão, em 2002, com a China.

E a primeira Copa em solo africano parece ter proporcionado as últimas fotos de Carlos Alberto Parreira à beira do campo. Podemos dizer que foi um técnico contestado, criticado, desacreditado, e, por vezes, injustiçado. Ganhou uma Copa e jogou outra fora, fazendo trabalhos distintos nos dois mundiais que comandou o Brasil. Entretanto, não podemos negar: Parreira, campeão mundial em 1994, merece entrar na galeria dos grandes estrategistas.

 

André Rocha descreve com perfeição a hibridação tática do Flu de Parreira que foi Campeão Brasileiro em 84: “Sem a bola, o Flu também era compacto. Os zagueiros Duílio e Ricardo Gomes ficavam mais atrás, protegidos pelo volante Jandir. Os laterais se juntavam aos meias e mais Assis e Tato, negando espaços aos oponentes na intermediária defensiva com impressionante abnegação no combate. Até Washington ajudava, saindo na marcação dos zagueiros ou até acompanhando o lateral-esquerdo. Em números, algo próximo do 4-4-1-1 que variava para o 4-3-1-2 de acordo com a postura tática de Tato.” Escalação: Paulo Victor; Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei, Romerito e Tato; Assis e Washington.

 

 

Outra definição perfeita de André Rocha: “O time de Parreira campeão do Rio-São Paulo e da Copa do Brasil e vice brasileiro era ofensivo, mas equilibrado e pouco fustigado pelo intenso trabalho de manutenção de posse de bola. O lado esquerdo era o ponto forte do 4-3-3 corintiano, com as triangulações de Kléber, Ricardinho e Gil que terminavam na linha de fundo com os cruzamentos para Deivid e Leandro”.

 

 

O quadrado que naufragou na Copa de 2006: muita festa e pouco futebol. Com Kaká e Ronaldinho improdutivos e atacantes acima do peso, Brasil foi presa fácil para a França de Zidane. Com Juninho Pernambucano e Robinho voando, essa Seleção poderia ter ido mais longe no Mundial da Alemanha. Escalação: Dida; Cafú, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Emerson, Zé Roberto, Kaká e Ronaldinho; Adriano e Ronaldo.

 

 

 

Referências:

 

 

https://pt.fifa.com/

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Parreira

 

https://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2010/noticias/0,,OI4438914-EI14416,00-Parreira+faz+historia+ao+disputar+sua+sexta+Copa.html

 

Olho Tático: Fluminense de Muricy tem “ecos” do campeão brasileiro com Parreira em 1984

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/12/01/fluminense-de-muricy-tem-ecos-do-campeao-brasileiro-com-parreira-em-1984/

 

Olho Tático: Brasil 1994 – O contexto que o mundo prefere esquecer

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/05/29/brasil-1994-o-contexto-que-o-mundo-prefere-esquecer/

 

Olho Tático: Tributo tático ao centenário Corinthians

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2010/09/01/tributo-tatico-ao-centenario-corinthians/

 

Olho Tático: Especial 100 anos de Fla-Flu: Jogo dos Sonhos – Flamengo-1981 x Fluminense-1984

https://globoesporte.globo.com/platb/olhotatico/2012/07/06/especial-100-anos-de-fla-flu-jogo-dos-sonhos-flamengo-1981-x-fluminense-1984/

 

Blog Preleção: Desempenho ou resultado?

https://wp.clicrbs.com.br/prelecao/2008/12/12/desempenho-ou-resultado/?topo=77,1,1

 

Blog Preleção:

https://wp.clicrbs.com.br/prelecao/?s=copa+94&topo=77%2C1%2C1

 

Blog Tabuleiro: Dunga apresenta Brasil de 1994 em duas linhas

https://globoesporte.globo.com/platb/tabuleiro/2011/09/13/dunga-apresenta-brasil-de-1994-em-duas-linhas/

 

Brasil 3 x 2 Holanda – Quartas de final da Copa de 94, disputada nos Estados Unidos. You Tube – Narração em inglês.

https://www.youtube.com/watch?v=Jak3WEq39as&feature=endscreen&NR=1

 

Brasil 3 x 0 Camarões – Fase de grupos da Copa de 94. You Tube – Gols brasileiros narrados por Galvão Bueno.

https://www.youtube.com/watch?v=6DSOK9X9XLU

 

 

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

 

Tópico: GRANDES ESTRATEGISTAS: PARREIRA GANHOU O TETRA MARCANDO EM LINHAS

Re:4-4-2

Victor Lamha de Oliveira | 15/01/2013

Grande Maurício! Parreira não jogou no losango. Foi sempre fiel as linhas de marcação. Esse foi um dos motivos do baixo rendimento de Raí, que ficava "sacrificado" na composição defensiva da linha de meio. Quando o Brasil retomava a bola, mesmo com liberdade para encostar-se ao ataque, ficava longe da intermediária, lugar onde desempenhava seu melhor futebol. Uma das virtudes de Parreira foi a manutenção do esquema tático na montagem da equipe. Abraço!

painel

Raul Chiliani | 05/01/2013

trabalho sensacional! parabéns!

Re:painel

Victor Lamha de Oliveira | 15/01/2013

Grande Raulzito! Obrigado pelo elogio amigo! Abraço!

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