INTERNACIONAL 0 x 0 FLUMINENSE: ABEL E SUA DETURPAÇÃO DO 4-2-3-1

26/04/2012 16:03

 

Empatar com o Internacional no Beira Rio, em jogo de Libertadores, jamais pode ser considerado um resultado negativo. Pelo regulamento, que privilegia o gol fora de casa, o resultado não foi dos melhores para o Flu, mas empatar é sempre melhor que perder. O que preocupa no time de Abel é o futebol pálido, insosso, inofensivo, sempre disposto no mesmo esquema e carente de qualquer variação tática. Essa foi a disposição dos atletas em campo:

 

 

As duas equipes vieram postadas no 4-2-3-1, esquema que predomina no futebol atual, de forma até cansativa. Tal desenho tático tem se tornado uma espécie de “moldura tática”, afinal invadiu e dominou o futebol nos maiores centros do planeta. Nada contra o esquema que nasceu de uma evolução tática, provavelmente ocorrida na Europa. O problema é que hoje os treinadores têm o aplicado de forma mecânica, sem entender o real propósito tático do desenho.

De acordo com o jornalista inglês Jonathan Wilson, a gênese do 4-2-3-1, provavelmente, se encontra entre as Eurocopas de 1996 e 2000. Wilson estudou a questão e concluiu que o aludido sistema tático nasceu de uma simples variação do 4-4-2 em duas linhas, sendo tal diversidade proporcionada pelo recuo de um dos atacantes, virando este um meia central e montando na equipe uma linha de três meias, guarnecida por uma dupla de volantes. Veja como se deu a mudança no aspecto tático:

 

 

No seu célebre livro que trata do tema, intitulado de “Inverting the Pyramid”, Wilson cita três equipes que influenciaram a criação do 4-2-3-1: o Manchester United da temporada 93/94, o primeiro Arsenal montado por Arsene Wenger e o Real Madrid da temporada 98/99. Perceba a semelhança do esquema dessas três equipes:

 

No Manchester, Paul Ince e Roy Keane eram os volantes, com Giggs e Kancheslskis bem abertos pelos lados. Eric Cantona recuava por trás de Mark Hughes, desmontando os sistemas defensivos dos adversários. Vale lembrar que o 4-4-2 duas linhas de quatro é o esquema base do futebol inglês. Os meias laterais são um resquício das origens do futebol britânico. Pode ter sido esse Manchester a fonte de onde emanou o 4-2-3-1.

 

 

Wilson também cita o primeiro Arsenal, montando pelo excelente Arsene Wenger. Petit e Vieira jogavam de volantes, bem centralizados, com Overmars e Parlour bem abertos. Bergkamp recuava para preparar a jogada, com Anelka enfiado entre os zagueiros.

 

 

De acordo com o jornalista britânico, os espanhóis creditam o 4-2-3-1 ao Real Madrid de John Toshack, montado no em 1999. A cabeça da área era formada por Geremi e Redondo, tendo logo na frente uma linha de três meias, com Raúl figurando como um perfeito meia-atacante. Creio que o craque espanhol, e suas atuações de gala jogando desta forma, contribuíram muito para a disseminação do esquema em questão.

 

O brilhante jornalista inglês acredita que o 4-2-3-1 nasceu de um movimento coletivo inconsciente, onde se buscava uma ocupação mais inteligente e efetiva dos espaços deixados na região central da intermediária ofensiva. A intenção precípua do esquema, além de aproveitar o jogo pelos flancos e alagar as marcações adversárias, é recuar um atacante para que este “puxe” um zagueiro, bagunçando assim a marcação dos volantes. André Cecconi definiu o surgimento e a adoção maciça do 4-2-3-1 como “um natural processo da evolução tática no futebol”.

Agora vocês vão entender o motivo dessa viajem tática. Tudo para poder criticar, com reais motivos táticos, o fraco time montado por Abel Braga. Como percebido, após a leitura sobre a gênese do 4-2-3-1, aquele jogador que atua como meia central é um atacante que recua para trazer um zagueiro consigo, aproveitando aquele espaço perto da área do inimigo. Ou seja, esse jogador tem que, além de distribuir as bolas e organizar o meio de campo, ser mais incisivo e jogar próximo do atacante, evitando seu isolamento.

Assistindo o time de Abel percebemos total deturpação desse dogma. Deco não tem característica e nem vigor físico para atuar naquela posição. Para jogar ali o atleta tem que ser, em minha opinião, mais atacante do que propriamente um meia. Como o jogo de Deco não é incisivo, e sim cadenciado, ele fica por ali distribuindo as bolas, longe da área e longe de Fred, basicamente um náufrago ilhado entre os defensores adversários.

Outro problema do tricolor é a atuação e a qualidade técnica dos volantes. Nesse esquema é necessário, para a compactação da equipe, que os cabeças de área realizem a marcação e também participem das ações ofensivas, evitando um espaçamento entre os atletas de meio campo, justamente o que está acontecendo com o Fluminense.

Edinho e Diguinho têm pouca qualidade técnica, pouco aproveitamento nos passes e uma péssima noção de posicionamento. Quando os meias ofensivos necessitam de uma aproximação para tocar e correr no espaço, se deparam com omissões ou erros grotescos de passe. Isso provoca outro isolamento da linha de três meias. A disposição tática do 4-2-3-1 somente é efetiva no aproveitamento de espaços se o time tem compactação e movimentação.

Por fim, Thiago Neves está escalado num lugar do campo onde jamais vai render o que se espera dele. A função de Thiago é quarto homem de meio campo, um segundo atacante, afinal é jogador habilidoso que gosta de jogar perto do gol. Aberto pelo flanco e recebendo a bola de costas, sem espaços para o drible, se torna somente mais um, perdendo o time a sua habilidade. Neves tinha que jogar onde está jogando Deco, sendo este recuado para segundo volante. Mas a covardia de Abelão parece impedir tal medida, afinal ele continua insistindo numa escalação que vem praticando um futebol muito abaixo do que esse grupo pode produzir.

Agora que Wellington Nem está machucado, e o Flu perdeu a jogada incisiva pelas laterais, fruto da vontade e ousadia do atleta, o jogo do time ficou ainda mais apático e previsível. Está chato ver o Fluminense jogar. E, se não mudar essa equipe, com certeza vai ficar pelo caminho da Libertadores e perder o Carioca para Vasco ou Botafogo.

Se o 4-2-3-1 é um processo natural da evolução tática, a covardia e falta de conhecimento dos treinadores serão sempre um retrocesso dessa evolução, tornando o futebol uma chata procura pelo resultado. Se não sabe usar o esquema  Abelão, tem que mudar logo! O Fluminense não tem uma variação tática, uma estratégia de urgência para se aplicar sobre o desenho tático. Infelizmente, as perspectivas não são boas para o tricolor. Deixe seu comentário!

 

 

Victor Lamha de Oliveira

 

 

Tópico: INTERNACIONAL 0 x 0 FLUMINENSE: ABEL E SUA DETURPAÇÃO DO 4-2-3-1

4-2-3-1 fluminense

joao tricolor | 31/08/2012

primeiro que voce errou ao prever que o fluminense não ia ganhar de jeito nenhum o carioca da forma que vinha jogando, errou e feio

e segundo que voce se apega demais a "esquemas de championship manager" tipo.. 4-2-3-1., 4-3-2-1 3-5-1-1, isso pouco importa, alias só vejo jornalistas darem muita importancia a esse tipo de coisa, ex-tecnicos e tecnicos estao muito mais preocupados com movimentaçoes do time, a distancia entre o zagueiro e o atacante ,etc

Alias, "esquemas numericos" só são notaveis sem a bola, com a bola é talento e improviso. Se fosse do jeito que voce estava falando, (a grande maioria) dos times brasileiros jogam em 4-2-3-1 então porque que o jogo é tão discrepante com o jogo na Europa que usa esse mesmo esquema?

Por isso que acho muita bobagem esse tipo de analise numerica, ja que sem a bola no Brasil vejo muita marcação homem a homem e falta de ajuda dos meias e atacantes o que dificulta qualquer linha alta de defesa.. até os times que se retrancam não conseguem deixar de ficar no mano a mano porque a linha de defesa se aprofunda e não se utiliza da regra do impedimento ..

Alias alem disso tudo tem-de se considerar que o tamanho do Beira-Rio é muito muito maior que qualquer gramado da Europa, então fazer um esquema cheio de desenhosinho bonito de jornalista ingles é dificil porque para jogar em linha alta de defesa, com Deco de "Central Midfielder" como voce quer é impossivel quase com a lentidão na recomposição dos meias e atacantes, que nem capacidade fisica tem de fazer isso.. a linha de defesa é quase obrigatoriamente profunda, o que permite mais tempo para transição e ai sobis e t.neves conseguem voltar para bloquear os flancos sem demais problemas, caso contrario o d'alessandro se cansaria de enfiar bolas em profundidade para o dagoberto contra uma teorica defesa alta, porque ele teria quase 10 segundos pra pensar ja que ha muita pouca pressão no campo de defesa do Inter pois alem de uma cultura de recomposição lenta ao perder a bola e falta de ajuda, as dimensões do beira-rio são abissais, e os gramados do brasil são altos e fofos, o que ainda agrava o problema de que a bola sempre vai chegar antes para o atacante do que para o goleiro fazendo papel de libero..

enfim depois falo mais

Re:4-2-3-1 fluminense

Victor Lamha de Oliveira | 23/09/2012

João, faço previsões e errar faz parte! Infelizmente, não tenho bola de cristal. Sobre o apego aos "desenhos de jornalistas", também não concordo! Grandes treinadores como Mourinho e Guardiola também não! Todo time tem um esquema base e uma estratégia que se aplica ao sistema! Questão de opinião e respeito a sua! Abraço!

Re:4-2-3-1 fluminense

Victor Lamha de Oliveira | 23/09/2012

Com a bola, sempre existe o improviso e o posicionamento base se altera na busca pela jogada de ataque. O que não concordo, é que os números são apenas "coisa de jornalista". Se você pegar os scouts dos jogos, onde podemos ver a posição que o jogador mais ocupou pelo gramado, vai perceber que é a mesma descrita taticamente antes de iniciar a partida. A divisão em números é uma forma de demonstrar aonde o jogador vai preencher o espaço, qual sua faixa de campo no tablado. É lógico, que isso não define nada. O futebol é uma arte de vários fatores, como técnica, postura, dinamismo, inteligência, estratégia e sorte. O treinador pode determinar inversões de posições, de estrategias e de desenhos táticos. É por isso que não enxergo o treinador tão "manager" assim. Essa questão de números e desenhos táticos gera grande discussão dentro da temática. Obrigado por enriquecer o debate!

ta mal mesmo vitao

Otávio Silva | 27/04/2012

cara, esse tiago neves ta bixadu kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! eu queria o lanzini e o flu no 4222. colocaria moura e fred no ataque, tiago e lanzini na criaçao e deco e diguinho de volante. ta bom? e isso ae!

Gostei do resultado!

Sandro Barletta Alves | 26/04/2012

Fala Victor, tudo bem? Olha, gostei muito da sua viajem tática sobre o 4-2-3-1! Ficou excelente! Configurou-se verdadeira aula de futebol! Meu filho de onze anos leu comigo e adorou entender como nasceu o esquema que o Fluminense usa! Nota 10! Sobre o jogo em si vou discordar de você! Acho que foi muito duro com o time do Abel. O time foi o primeiro na classificação geral e empatou com o Inter, time de tradição no torneio, em pleno Beira Rio lotado. Isso porque o time já está na final do carioca há dois meses! Libertadoes não tem jogo fácil, e acho que o tricolor continua favorito! Obrigado e boa noite!

Sandro Barletta Alves - Niterói, RJ

Re:Gostei do resultado!

Victor Lamha de Oliveira | 26/04/2012

Olá Sandro, seja bem vindo! Como eu disse no início do post, também achei o resultado bom para quem jogou fora de casa. Porém, pelo elenco e investimento que fez, estou achando o futebol do Flu apático,óbvio, sem vida! Agora que o Nem contundiu, isso ficou ainda mais evidente! Ele tem Lanzini, Moura, Wagner...tem como mudar um pouco a cara do time! Acho que os jogadores estão posicionados de forma errada e o 4-2-3-1 não está sendo executado dentro dos seus propósitos táticos! O Flu ainda é favorito, mas tem que melhorar! Abraço

Nada q me interesse, infelizmente

Juninho Esterce | 26/04/2012

E aí Vitão! Nem vi esse jogo não... num tenho visto nada de Libertadores, só acompanho nos sites mesmo os resultados, mas vc deve tá feliz com o seu time ainda com chances, mas pra falar a verdade tô com a La U! Hehe... enfim, pelo resultado, e tbm pelo Cavalieri ter defendido um pênalti, o jogo foi mais pro Inter. Nos poucos lances q eu vi o Fred não fez mta coisa, mas foram poucos lances mesmo. Ainda mais q eu cheguei da facul cansado, meu time não jogava ontem, só hj contra a Ponte, então fui dormir. E dessas equipes aí a de melhor qualidade é o Arsenal, mas eu gostava bastante do Cantona tbm, jogava mto.

Re:Nada q me interesse, infelizmente

Victor Lamha de Oliveira | 26/04/2012

Grande Júnior!!! LA U Junin???? Poxa...torce para o Flu aê...rsrs! Cavalieri lembrou você nas peladas da Star...rsrsrsrs...igual gato!!! Eu também gostava bastante do Cantona, uma mistura de Edmundo com Benzema! Rs! Abraço

Evolução tática!! Fluminense sorte de campeão???

Danilo Costa | 26/04/2012

Outro belo post!
Já havia visto essa "evolução" tática do jornalista inglês. Isso não ocorre só com o Abel e o fluminense. Começa com a grande confusão dos técnicos brasileiros. Se vc tem os dois jogadores de lado com características de meias, o meia central deve ser um jogador de origem de ataque, como descrito acima. Se ocorre o inverso os dois jogadores de lado forem atacantes de origem o meia central deve ter origem de meio campo, isso tudo pra haver coesão na equipe, porém vale ressaltar q na segunda ocasião o esquema correto seria o 4-3-3 (ou 4-3-2-1 se preferir). Na minha opinião os técnicos brasileiros acostumados e viciados no 4-2-2-2, por falta de elenco, por modismo, e por retranca adotam o famoso 4-2-3-1 torto. Pq sempre usam um jogador de meio campo como meia central, um segundo atacante por um lado e um meia do outro lado, na grande maioria das vezes o q se observa é isolamento do centro-avante. Na minha opinião para o fluminense falta é redistribuição tática, pq acaba confundindo os jogadores, principalmente o Thiago Neves, q foi estragado no flamengo exercendo a mesma função. Os comentários a cima pode se utilizar pra seleção brasileira e o teimoso 4-2-3-1 do Mano.
O fluminense ta jogando mal, mas na minha opinião, ta com cara de campeão... aqueles campeões épicos e sofridos!!
Abraço

Re:Evolução tática!! Fluminense sorte de campeão???

Victor Lamha de Oliveira | 26/04/2012

Grande Danilo! Tudo bom garoto? Ontem tava lendo seu post e lembrei de você molecote lá no Granbery, agarrado no seu irmão na hora de ir embora! Vi suas fotos lá no facebook, tá com a mesma cara de levado que tinha quando criança...kkk!!! Olha, estou impressionado com seu conhecimento tático! Obrigado pelos elogios e parabéns pelo seu conhecimento! Achei perfeita essa sua colocação: "Se vc tem os dois jogadores de lado com características de meias, o meia central deve ser um jogador de origem de ataque, como descrito acima. Se ocorre o inverso os dois jogadores de lado forem atacantes de origem o meia central deve ter origem de meio campo, isso tudo pra haver coesão na equipe". Perfeito! Ficou mais completo que a minha definição! E realmente o 4-2-3-1 tem sido utilizado de forma torta, como foi a seleção do Dunga! Sobre a sorte de campeão do Flu, eu, como torcedor, pensei a mesma coisa ontem! Tomara! Obrigado e volte sempre!

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