RESUMO TÁTICO DA EUROCOPA: DIVERSIDADE ESTRATÉGICA E TÁTICA

04/07/2012 14:34

 

No plano tático, podemos dizer que a Euro2012 foi marcada por diversidade e evolução. Mesmo com o 4-2-3-1 sendo, novamente, uma espécie de esquema base, observamos uma grande variedade de estratégias aplicadas ao citado desenho, além do uso de outros esquemas. Durante a disputa do torneio, verificamos a utilização de mais ou menos sete desenhos táticos diferentes, assim como a aplicação de tendências táticas futuristas (caso do 4-6-0 espanhol) e o uso reiterado de uma variação tática (4-2-3-1/4-1-4-1) que ganhou status após a conquista da Champions League pelo Chelsea.
Como citado, a Espanha, grande campeã da Eurocopa, conquistou tal título escalando sua equipe num esquema inovador: um 4-2-3-1 sem atacante de ofício, uma espécie de 4-6-0. Para alguns especialistas, a nova tendência tática, próximo degrau após a “Era do 4-2-3-1”, será a “Era do 4-6-0”, onde teremos total versatilidade no meio de campo, com praticamente todos seus componentes incumbidos de atacar e defender.
Mesmo Del Bosque escalando esse time, muito mais pela falta de um centroavante de qualidade, devido à má fase de Torres e a ausência de Villa, do que por uma opção tática, esse desenho é interessante por já demonstrar em campo uma tendência estratégica do futebol mundial: a extinção do matador, do atacante de ofício, tornando o futebol cada vez mais versátil e participativo.
Abaixo o painel tático do 4-2-3-1/4-6-0 circunstancial da Espanha que, pelo resultado alcançado, pode se tornar uma vertente tática costumeira da equipe. Parece que as dúvidas de Del Bosque quanto ao fato de jogar sem uma referência no ataque, terminaram com a goleada na final da competição:
 

 

Não mudou quase nada do time que conquistou a Copa do Mundo de 2010. Xavi organizando o meio como um maestro, volantes participativos, troca de posição constante no ataque e muito, muito toque de bola. A única mudança foi, como comentado, o uso do 4-2-3-1 sem atacante, com uma linha de três meias no ataque, formando verdadeiro e inovador 4-6-0.
Já na Itália, podemos dizer que muita coisa mudou, no plano tático, estratégico e técnico. Prandelli iniciou a competição escalando a sua equipe num italiano 5-3-2 que procurava diminuir os riscos, até que fosse encontrada uma saída tática mais apropriada. E o treinador italiano encontrou, em meio a retranca, um vigoroso e numérico 4-3-1-2, esquema que dificultou a vido dos usuários de meias abertos.
Como bem percebido pelo genial André Rocha, “o losango italiano deu liberdade a Pirlo e se impôs com superioridade numérica no meio-campo diante de seleções com meias abertos (4-4-2 ou 4-2-3-1) até a final”. Precisando vencer a Irlanda no último jogo da primeira fase, Prandelli desmanchou o 5-3-2 e postou a Azurra num 4-3-1-2 vigoroso, com Pirlo vindo de trás para criar o jogo, volantes que marcavam e auxiliavam o ataque e laterais mais presos. Esse foi o desenho tático “achado” pelo treinador italiano que, provavelmente, será o esquema base da equipe após o bom resultado obtido na Eurocopa:

 

 

No time alemão, muito bem treinado por Löw, nenhuma novidade tática. A equipe veio postada no costumeiro 4-2-3-1 com volantes habilidosos e ofensivos, apoio frequente dos laterais, meio campo veloz e habilidoso e uma referência plantada na área do adversário. O que chama atenção no time alemão, além da qualidade técnica do time, é qualidade do elenco. Para as cinco vagas do meio de campo, Löw tem Schweinsteiger, Khedira, Müller, Podolski, Reus, Özil, Kroos, Schürrle e Götze. Esse foi o desenho tático da Alemanha, provavelmente o que veremos na Copa de 2014:

 

 

Já a seleção portuguesa, não quis saber de 4-2-3-1, e veio escalada num moderno, inteligente e polivalente 4-3-3, sempre com o escopo de liberar Cristiano Ronaldo. O treinador Paulo Bento colocou Veloso na proteção da defesa, deixou Moutinho e Meireles marcando e saindo para o jogo e recuou Nani para liberar Ronaldo no ataque, postura tática que fez o craque do Real Madrid brilhar na competição. Esse foi o desenho utilizado por Bento que, provavelmente, vai ser o padrão tático do time que deve disputar a Copa do Brasil:

 

 

Na seleção da Inglaterra, verificamos um retorno às origens táticas do país, desde a volta de um tradicional treinador inglês até o retorno ao velho 4-4-2 em duas linhas de quatro. A equipe inglesa, apesar de ter sentido bastante a ausência de Lampard, superou as expectativas e fez uma campanha razoável. Esse foi o tradicional 4-4-2 com wingers da Inglaterra, esquema tático que provavelmente voltará ser o utilizado, com características bem inglesas, até a Copa do Mundo:

 

 

Na equipe da França, flagramos o uso de uma variação tática que tem, cada vez mais, sido usada no futebol mundial: a variação do 4-2-3-1 para o 4-1-4-1, vertente tática que ganhou status de vencedora com a conquista da Champions League pelo Chelsea, time que usou a tática para frear equipes como Barcelona e Bayern. A intenção de Blanc é muito clara: pela versatilidade de seus jogadores de meio campo, quer um esquema híbrido, que, de acordo com a circunstância do jogo, pode ser um 4-2-3-1 ou então um compacto 4-1-4-1.
Toda essa esquemática se apoia na movimentação do segundo volante, que pode ser tanto defensor, na perspectiva do 4-2-3-1, como pode compor uma linha de quatro que joga à frente do primeiro volante, o que proporciona uma marcação dupla nas laterais e no meio. Lembrando que o 4-1-4-1 foi usado na Euro pela Polônia, pela Grécia e pela própria França. Esse foi o desenho tático híbrido do time francês:

 

 

A seleção grega, mais uma vez se destacou pela efetividade de seu ferrolho defensivo. A Grécia desbancou os russos e os poloneses e se classificou para as quartas, causando grande surpresa, afinal a Rússia tinha um bom time e a Polônia jogava em casa. O interessante é que a seleção grega também se valeu de um “4-2-3-1 camaleão”, afinal quando o time estava sem a posse de bola, marcava com duas linhas de quatro, desenhando em campo um 4-4-1-1 muito parecido com o do Corinthians de Tite. Esse foi o desenho tático da equipe grega, que mais uma vez, surpreendeu:

 

 

Por fim, a Holanda, grande decepção do torneio. Enquanto seleções que foram bem na competição, demonstraram que atualmente, com a evolução tática, é essencial o uso de volantes habilidosos, que ajudam na marcação e que também atacam, o time laranja fez o contrário, vindo postado num 4-2-3-1 óbvio e estático que utilizava dois volantes lentos, sendo que estes marcavam mal e em nada ajudavam no ataque:

 

 

Após a péssima campanha, o treinador Marwijk foi dispensado, sendo que um novo comandante será contratado para tentar, nesses dois anos que antecedem a Copa, renovar e diversificar o esquema holandês, totalmente insosso e previsível para os adversários. Nessa Euro2012 tivemos ótimas partidas e seleções muito bem preparadas no aspecto físico, o que proporcionou duelos táticos interessantes e jogos bem dinâmicos. Esperamos que Mano Menezes tenha percebido todas essas vertentes e novidades. Quem sabe ele não se convenceu que Hernanes e Ramires podem ser os volantes de seu 4-2-3-1? Essa foi uma das lições táticas da Euro2012. Abraço!
 
 
 
 
Victor Lamha de Oliveira

 

 

Tópico: RESUMO TÁTICO DA EUROCOPA: DIVERSIDADE ESTRATÉGICA E TÁTICA

otimo

SAULO | 05/07/2012

parabens victor! esse post e o da seleçao de 62 sao os melhores q ja publicou! adorei esse resumo tatico! valews

Re:otimo

Victor Lamha de Oliveira | 06/07/2012

Olá Saulo, tudo bom? Obrigado pelos elogios! Esses dois posts, com certeza, foram os mais complexos de fazer! Porém, o elogio dos leitores compessam cada minuto de sua feitura! Obrigado e volte sempre! A casa é sua! Abraço!

Diversidade Tática

Maurício | 04/07/2012

Fala Victor! Tudo bem?
Outro belo post, vou falar mais sobre a campeã Espanha, como vc falou joga no 4-6-0/4-2-3-1 vi nos primeiros jogos uma espécie de 4-3-3/4-5-1, com Xabi e Xavi lado-a-lado a frente de Busquetes. Observando os jogos da Fúria percebi que sem a bola o time jogava no 4-2-3-1 mesmo (com o Cesc jogando), já o time com a bola, é aquela rotação que a seleção faz, ninguém fica fixo em suas posições!
E o post sobre os seus melhores da Euro, não vai sair ae?
Abraço

Re:Diversidade Tática

Victor Lamha de Oliveira | 06/07/2012

Grande Maurício, tudo bom? Valeu pelo elogio irmão! A Espanha, na verdade, joga num esquema muito moderno, um verdadeiro 4-6-0 com várias facetas: 4-3-3, 4-2-3-1 e 4-5-1. Essa rotação que você mencionou é o carrossel espanhol, versão atual do time de Rinus Michels, o mentor do futebol total e da Laranja mecânica de 74! O post dos melhores da Euro vai sair sim! Pode aguardar! Abraço!!!

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