TUPI 1 x 1 AMÉRICA: OUSADIA TÁTICA DE SURIAN FUNCIONA NOVAMENTE

04/03/2013 11:56

 

Tupi e América se enfrentaram ontem pela quarta rodada do Campeonato Mineiro 2013. Com o estádio Radialista Mário Helênio recebendo um público maior que o de costume, o Galo Carijó fez boa partida no aspecto tático e estratégico, sendo um time aguerrido e objetivado do início ao fim, sobretudo no segundo tempo. Taticamente, o Tupi veio postado num 4-2-3-1 mais equânime, enquanto o Coelho veio escalado num 4-3-1-2, o famoso 4-4-2 losango:

 

Tupi no 4-2-3-1 e América no 4-3-1-2: Dessa vez o esquema de Surian foi mais linear, sem aquela dinâmica de 4-2-2-2 dos últimos dois jogos. Vinícius e Rafael Assis davam velocidade pelos flancos, com Paulinho caindo pelos dois lados. Genalvo cuidava de Rodriguinho e Maicon tinha um pouco mais de liberdade para encostar-se ao ataque, o que não aproveitou. Na frente, Wesley se movimentou bastante e reteve a bola para o time chegar ao campo de defesa americano. A equipe do América ficou sem presença de área com Fábio Júnior jogando distante do gol do Tupi. Na transição ofensiva, Doriva subia para auxiliar Rodriguinho na criação.

 

 

As ausências de Jordan, Maguinho e Ygor, preocupavam o torcedor Carijó, afinal o Coelho é, teoricamente, a terceira força do futebol mineiro. Ainda mais porque Ygor e Jordan haviam sido os destaques na imponente vitória sobre o Boa Esporte jogando fora de casa, outra equipe dotada de certa qualidade técnica em seu elenco. Mas, para a sorte do Tupi, os substitutos, tirando Maicon que não esteve bem, responderam a altura, com destaque para o meia Vinícius.

 

 

No flagrante tático acima, uma das arrancadas de Vinícius pelo flanco esquerdo. Jogador se destacou e mostrou ter qualidade para jogar no time titular. Fica perceptível também a linha de três volantes montada por Vinícius Eutrópio, técnico do América.

 

 

Nesse outro flagrante, conseguimos enxergar o 4-2-3-1 do Galo (circulada de preto a defesa, de vermelho os volantes, de azul a linha de três meias e de amarelo o atacante Wesley). Quanto ao América, uma variação tática feita várias vezes na transição ofensiva: o volante Claudinei ocupava a posição de terceiro zagueiro e o time atacava no 3-4-1-2, liberando os alas. Faltou presença de área para o time da capital, além de um auxílio mais eficaz para Rodriguinho, muito bem marcado por Genalvo.

 

 

Como citado acima, Genalvo foi um verdadeiro carrapato na cola de Rodriguinho. O dedicado volante Carijó acompanhava o meia americano por quase todo o campo, evitando que o atleta pensasse o jogo e criasse as jogadas. Esse foi um dos grandes motivos do baixo volume de jogo ofensivo do América, que finalizou muito pouco.

 

 

O primeiro tempo foi muito disputado, com duas equipes organizadas taticamente e procurando sempre encurtar os espaços. Como bem observado pelo Xodó da galera, nosso genial Ivan Costa, “o jogo na etapa inicial foi corrido, bem disputado e com o Tupi jogando bem”. Em termos de finalização, houve equilíbrio entre as equipes, sendo que o Galo teve mais posse de bola. O time juiz-forano jogou bem coletivamente e trabalhou bem a bola, faltando ser mais objetivo.

Na segunda etapa o Tupi voltou predominante, quase marcando o gol no primeiro lance após o reinício da partida. Procurando a vitória, a equipe de Surian mostrava raça, empenho e uma coletividade produtiva, levando perigo constante para a defesa do Coelho, principalmente com as investidas do endiabrado Rafael Assis pelo flanco direito, melhor jogador em campo e brilhantemente apelidado por Ivan Costa de “bagre ensaboado”, tamanha é sua velocidade e agilidade com a bola nos pés.

Entretanto, aos 28 minutos veio o castigo: em cobrança de falta de Rodriguinho, quase na entrada da área, a zaga Carijó parou e o zagueiro Lula subiu livre para marcar o primeiro gol do jogo: 1 x 0 para o América e uma grande injustiça com o Tupi, visivelmente superior desde o primeiro minuto da etapa complementar. Acontece que Felipe Surian, assim como no duelo de domingo passado, mais uma vez surpreendeu com duas substituições.

No duelo contra o Boa Esporte em Varginha, quando Maguinho foi expulso, todos esperavam a entrada de um volante para recompor a proteção da zaga. Entretanto, como explicado pelo próprio comandante Carijó em entrevista à Rádio Globo, Vinícius entrou como um “segundo volante que tinha como função sair para o ataque e auxiliar o time ofensivamente”. E foi assim que o Tupi conquistou sua primeira vitória no campeonato. Ontem, novamente Surian foi ousado e competente, colocando o time ainda mais ofensivo.

Aos 30’, saiu Maicon que estava mal e entrou Cassiano. Poucos minutos depois, a segunda alteração: saiu Vinícius, bastante cansado, e entrou o estreante Assuério. Assim, o Tupi passou a jogar praticamente num 4-1-2-3, com dois meias de ligação e três atacantes. Paulinho recuava um pouco mais para ajudar Genalvo e Assuério tentava se juntar com velocidade ao trio de ataque. Cassiano, jogador de segundo tempo, entrou muito e colocou fogo na partida, levando o lateral Wanderson a loucura com suas investidas.

 

A partir dos 30’ do segundo tempo, Surian, de forma ousada e inteligente, repaginou o Tupi num ofensivo 4-1-2-3. Como declarado pelo treinador ao final da partida, Assuério é jogador de beirada, mas entrou por ser veloz e incisivo. Essa busca pelo gol, demonstrada na atitude do treinador, contaminou jogadores e torcedores, que juntos abafaram o Coelho no Radialista Mário Helênio.

 

 

Aos 42 minutos veio, com justiça, o resultado da ousadia do treinador e do comprometimento dos atletas. Neneca deu uma tesoura rasante em Wesley dentro da área, sendo assinalada pelo trio de arbitragem a penalidade máxima. Era a chance do Tupi, que merecia estar vencendo, sair pelo menos com o empate. Já com 44 minutos, o lateral esquerdo Alonso foi para a cobrança e guardou no ângulo superior direito de Neneca, explodindo a torcida e premiando todos os jogadores pela entrega em campo e pela busca incessante pelo gol. O empate não foi justo, mas muito menos injusto que a derrota, que seria verdadeiro castigo para os comandados de Felipe Surian.

Após a análise da partida, gostaria de destacar algumas questões. Primeiramente, elogiar o padrão tático que o treinador do Galo tem conseguido dar para sua equipe. Mesmo com os desfalques, o Tupi conseguiu jogar da mesma forma e intensidade do último jogo, o que mostra um quadro de funções bem definidas dos jogadores em campo. Estou gostando muito do trabalho de Surian, um treinador que vem mostrando uma leitura tática inteligente e sutil, sem invenção de moda e com competência para buscar os resultados.

Também gostaria de parabenizar a Secretária de Esportes e a EMPAV, que mudaram radicalmente o estado do gramado do Estádio Municipal. O que antes dava vergonha, agora se mostra praticamente revitalizado, o que proporciona a prática de um futebol mais técnico, com tabelas e toques rápidos na bola. Quem também merece elogios é o torcedor do Tupi, que cantou durante toda a partida, mesmo depois de sofrer o gol, aplaudindo, de pé, o time que tanto lutou ao final da partida.

Por fim, comento sobre o quebra cabeça de Surian para o próximo jogo contra o Guarani, em Juiz de Fora. Vinícius jogou muito bem, sendo um dos destaques ao lado de Rafael Assis e do dedicado Genalvo. Assim, Felipe terá Paulinho, Ygor, Rafael Assis e Vinícius brigando por três vagas no meio de campo do Carijó. Talvez Vinícius até possa fazer um segundo volante, mas creio que tal posicionamento não coaduna com suas características, a não ser em casos de necessidade, como foi em Varginha.

O Tupi, ao final da rodada, ficou com 6 pontos (50% de aproveitamento) e na quinta colocação. A vaga no G4 foi perdida para a Tombense por causa do número de vitórias: o time de Tombos tem duas e o Carijó apenas uma. Entretanto, o Tupi é um dos três invictos na competição ao lado de Cruzeiro e Villa Nova. A melhor notícia de todas para o torcedor do Tupi é a volta daquela postura guerreira da Série D e do Campeonato Mineiro do ano passado. Parabéns ao grupo pela entrega e ao treinador pela ousadia e busca pela vitória. Abraço!

 

 

Com o Painel Tático fazendo um ano, não teria presente melhor do que receber essa credencial de comentarista da Rádio Globo. É sempre uma honra fazer parte dessa seleção! Gostaria de agradecer imensamente ao Ricardo e a toda equipe da Globo, a melhor transmissão de futebol do Brasil.

 

 

 

 

 

Victor Lamha de Oliveira